23/03/2023

Dados da Unicamp mostram necessidade de hospital metropolitano, avaliam prefeitos

Levantamento foi apresentado aos prefeitos da Região Metropolitana de Campinas; 90% da demanda da rede hospitalar da RRAS15 tem origem nos municípios da região de saúde da RMC

Dados de um levantamento feito pela Unicamp, mostram que a Região Metropolitana de Campinas (RMC) conta com o menor número de leitos hospitalares em comparação ao Brasil e ao estado de São Paulo.

De acordo com os dados apresentados pelo Diretor da Área de Saúde da Unicamp, Oswaldo Grassiotto, para ao menos 30 prefeitos da RMC, da Região Mogiana e do Circuito das Águas, a média de leitos por mil habitantes é de 2,5 no Brasil, chega a 2,0 no estado de São Paulo e atinge o índice de apenas 1,0 na RMC.

De acordo com os dados, a análise da evolução do número de leitos hospitalares SUS, cadastrados no Conselho Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) no período de 2008 a 2021, indica uma queda progressiva nos leitos da Rede Regional de Atenção à Saúde (RRAS) 15 — que engloba o Departamento de Saúde de Campinas e de São João da Boa Vista. Essa queda foi de cerca de 19% até 2017.

Houve um leve crescimento nos anos de 2020 e 2021, mas insuficiente para repor os números de 2008, segundo o estudo. De acordo com o levantamento, a queda no número de leitos deveu-se à diminuição dos leitos cirúrgicos, obstétricos, pediátricos e de outras especialidades, além dos leitos de hospital-dia. O resultado disso é um aumento progressivo nas filas de espera por cirurgias eletivas.

Em dezembro de 2022, segundo registros da Central de Regulação de Serviços e Saúde para a RRAS 15, as demandas ainda reprimidas eram de 20.814 pacientes aguardando tratamento em oftalmologia, mais de 10.8 mil em ortopedia e quase 6,5 mil para dermatologia. No total, 56 mil pessoas aguardam hoje, na região, por uma cirurgia eletiva. (Veja quadro completo abaixo).

O levantamento mostrou ainda que mais de 80% das internações nos hospitais da rede de saúde ocorrem em caráter de urgência. Na RMC, esse índice é 81%. O diagnóstico mostrou, também, que 90% da demanda da rede hospitalar da RRAS15 tem origem nos municípios da região de saúde da RMC; cerca de 5% vem de outros municípios do estado de São Paulo, e 2,5% de municípios de outros estados.

O presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis: 300 novas vagas

Instituto Movimento Cidades Inteligentes

O estudo feito pela Unicamp deverá compor uma série de levantamentos de dados feito pelo Instituto Movimento Cidades Inteligentes (IMCI) para a plataforma Infratech – Gestão Pública Inteligente, braço de apoio do Conselho.

Segundo o presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), o estudo irá subsidiar os municípios com vistas à construção do futuro Hospital Metropolitano, que criará cerca de 300 novas vagas e deverá desafogar a fila da Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross), do Governo do Estado de São Paulo.

“É um estudo que dará as diretrizes para a saúde regional e se alinha à nossa luta pela construção do Hospital Regional Metropolitano, uma bandeira de todos os prefeitos que integram o Conselho de Desenvolvimento da RMC”, explica Gustavo Reis.

O projeto de construção do Hospital Metropolitano está pronto, segundo o diretor da área de Saúde da Unicamp, Oswaldo Grassiotto. De acordo com ele, a Universidade já reservou uma área de aproximadamente 40 mil m² na região onde está sendo instalado o HIDS (Hub Internacional de Desenvolvimento Sustentável) — um distrito inteligente, que irá reunir o setor acadêmico, de pesquisa e empresas de tecnologia e inovação.

O equipamento terá capacidade para cerca de 300 leitos — 50 de UCI (Unidade de Cuidados Intermediários) e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Conforme o estudo, o custo de construção do hospital é estimado em R$ 320 milhões, e o custeio exigirá R$ 250 milhões por ano. O financiamento deverá ser feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Pela proposta, a gestão técnica será feita pela Unicamp, através de contrato de gestão, com atendimento eletivo e de urgência referenciados. De acordo com Grassiotto, uma estrutura como essa é construída em cerca de dois anos. As estruturas de Saúde administradas pela Unicamp na região de Campinas e adjacências somam 13 hospitais e unidades de saúde, que, juntas, oferecem perto de mil leitos.

Além do HC, do Caism (Hospital da Mulher), do Gastrocentro e do Hemocentro, a estrutura conta com o Hospital Estadual de Sumaré e o Hospital Regional de Piracacaba, além das AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) em Amparo, Limeira, Mogi Guaçu, Piracicaba, Rio Claro, Santa Bárbara D’Oeste e São João da Boa Vista. No total, os atendimentos da Universidade nesse setor abrangem 125 municípios.

Da esquerda para direita, o prefeito de Campinas, Dario Saadi, o reitor da Unicamp Antonio Meirelles e o diretor executivo da Área da Saúde Oswaldo Grassiotto: necessidade de um novo hospital público na região

Mais investimentos do governo

O prefeito de Campinas, Dario Saadi, lembrou que a região vive uma crise pela falta de leitos pediátricos e materno-fetal. Ele pediu mais investimentos do governo do estado e reforçou a necessidade de um novo hospital público na região.

“Estamos vivendo uma crise no setor de pediatria na RMC, principalmente o atendimento materno-fetal. Faço coro, aqui, com o prefeito Gustavo Reis e com todos os outros prefeitos presentes, não apenas por mais investimentos do governo do estado na assistência e na abertura de novos leitos, mas também para que possamos deixar o Hospital das Clínicas da Unicamp para atendimentos mais complexos”, afirmou ele.

“Esse tipo de atendimento é extremamente difícil de se conseguir no setor privado ou mesmo no filantrópico. E precisamos lembrar que o HC da Unicamp tem essa capacidade. Na verdade, estamos defendendo o uso racional da estrutura do HC”, afirmou o prefeito de Campinas.

A necessidade de um hospital metropolitano foi defendida também por prefeitos de municípios para além da RMC.

Presente no encontro, o prefeito Marcelo Zanetti, de São José do Rio Pardo, avalia que a construção de um hospital metropolitano em Campinas pode afetar positivamente a sua cidade. “Acreditamos num projeto de regionalização ou de microrregionalização, para que possamos aproveitar o potencial de cada região”, disse ele. “Aquilo que eventualmente é ofertado numa região, pode faltar em outra. Então, esse projeto, com certeza, fortaleceria o vínculo dos municípios e possibilitaria atender melhor nossa população”, concluiu ele.

“A construção de um hospital como esse afetará muito o atendimento em toda a região. O hospital irá significar muito para nós, porque Campinas é nossa referência”, disse o prefeito Osvaldo Moreira, de Santo Antonio do Jardim.

O prefeito José Francisco Martha, de São Sebastião da Grama, lembra que, para os municípios menores, a demanda quase sempre é maior que oferta de serviços. “Temos um hospital regional, mas um hospital aqui em Campinas pode contribuir, pois a demanda por saúde é sempre maior que nossa disponibilidade. Nós, que estamos abaixo de 20 mil habitantes, sempre precisamos buscar ajuda de cidades maiores”, argumenta.

Esforço maior

O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, disse que o maior objetivo da Universidade é fazer com que o conhecimento gerado na academia sirva à região, ao estado e ao país.

“Queremos contribuir para reduzir as desigualdades, para garantir sustentabilidade e inclusão social. Essa é nossa disposição como instituição, mas não é possível fazer isso sem uma relação estreita com os municípios, com o governo estadual e com a União”, avalia.

O reitor diz que a proposta da Unicamp, de ceder uma área para a construção de um hospital regional, faz parte de um esforço maior. “Queremos pensar a saúde em toda a região. E a proposta do hospital regional vem nessa direção. Esse projeto permitirá não só dar um salto de qualidade no atendimento e na assistência à saúde, mas também ampliar as áreas oncológicas, o que é hoje um grande desafio para nós”, diz.

Para Meirelles, o projeto permitirá avanços em outras áreas. “No entorno da assistência à saúde, podemos ampliar a industrialização da nossa região, fazendo com que a inovação, ciência e tecnologia sirvam para trazer novas empresas da área de saúde, que construam equipamentos, que fabriquem fármacos, que atuem na logística assistencial e hospitalar ou na tecnologia da informação aplicada ao atendimento à saúde”, lembra o reitor.

“Usando esse conjunto de ferramentas, a gente poderá, de fato, contribuir para reduzir as desigualdades em nossa região e para melhorar substancialmente os serviços prestados para o conjunto da nossa população”, conclui.

Lista de espera da cirurgia eletiva (número de pessoas à espera por uma cirurgia eletiva)

Oftalmologia — 20.814

Ortopedia — 10.860

Dermatologia — 6.639

Cirurgia Geral — 6.436

Urologia — 4.703

Cirurgia Pediátrica — 3.524

Neurocirurgia — 3.051

Fonte: Central de Regulação de Serviços e Saúde CDR CROSS para a RRAS15 em dezembro de 2022.

Unicamp

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