26/04/2022

Estudo expõe riscos da guerra da Rússia a setores específicos da RMC

Transações comerciais com os russos vêm crescendo desde 2014. RMC possui alta dependência russa de produtos derivados da batata e do petróleo

Setores específicos da Região Metropolitana de Campinas (RMC), dependentes do fornecimento de insumos russos ou da venda de produtos para o país, correm risco diante dos conflitos entre Rússia e Ucrânia. Segundo estudo produzido pelo Observatório PUC-Campinas, as transações da RMC com as nações envolvidas na guerra vêm subindo desde 2014. Segmentos dependentes de produtos derivados da batata e do petróleo devem ser os mais prejudicados em caso de ruptura dos fluxos comerciais.

Em 2021, de acordo com o levantamento, 0,75% das exportações da RMC tiveram como destinos Rússia e Ucrânia. O montante corresponde a US$ 35 milhões. Em relação às importações, 0,96% dos produtos vieram destes países. O valor importado foi de US$ 144 milhões. Apesar de baixo, o comércio bilateral com essas nações, sobretudo com a Rússia, é expressivo para determinados setores e vêm crescendo desde 2014.

“Neste sentido, um agravamento do conflito pode interferir na capacidade produtiva e de escoamento dos fornecedores russos, ou mesmo na imposição de sanções, revertendo a tendência de aumento do comércio bilateral entre a região e Rússia”, afirma o economista Paulo Oliveira, responsável pela análise do Observatório PUC-Campinas.

Entre os insumos de alta dependência de fornecedores russos, estão: farinha, enxofre, adubos minerais ou químicos (fertilizantes), borrachas sintética e artificial etc. Destaca-se a dependência exclusiva de alguns derivados de batata e de petróleo. Além disso, vários exportadores da RMC têm a Rússia como destino de seus produtos. Em 2021, quase um terço das exportações de papel e revestimentos de parede fabricados na região foram para o país. Cerca de 11% das exportações de máquinas para construção civil foram destinadas para a Rússia no mesmo período.

“A queda na demanda interna na Rússia pode impactar fornecedores regionais que dependem, em maior ou menor medida, dos compradores russos”, destaca o professor extensionista. Ele reforça, ainda, que setores específicos de vestuário também podem sofrer impactos da guerra. Em 2021, 11,5% das exportações de produtos como sobretudos, capas e blusas tiveram como destino a Ucrânia, país envolvido no conflito.

Diante dos potenciais danos à economia regional, podendo resultar na inviabilidade de operação de algumas plantas na RMC e, com isso, maiores taxas de desemprego, o economista recomenda a formulação e políticas públicas e a articulação de representantes da indústria regional.

“As estratégias devem envolver desenvolvimento de fornecedores e compradores alternativos ao mercado russo. No caso dos fornecedores, dado câmbio desfavorável às importações, os elevados custos de transporte internacional e a natureza dos produtos importados da Rússia, recomenda-se, sobretudo, o desenvolvimento de fornecedores brasileiros. Para o caso das exportações, recomenda-se adoção de estratégias de diversificação de mercados internacionais. É importante que empresários dos setores de maior risco estejam preparados para possíveis rompimentos de comércio com empresas localizadas nos dois países envolvidos no conflito”, finaliza Oliveira.

Impactos para a economia brasileira

No caso brasileiro, em particular, preocupa a manutenção da oferta internacional de trigo e de fertilizantes. O país é o maior importador mundial de fertilizantes e o quinto maior importador mundial de trigo. Embora o trigo consumido no Brasil venha, sobretudo, da Argentina e dos Estados Unidos, a possível escassez mundial do produto pode causar aumentos expressivos dos preços internacionais.

Já no caso dos fertilizantes, o Brasil depende consideravelmente das importações da Rússia, e deve ser afetado diretamente por uma possível dificuldade de produção dos fornecedores russos, ou pela necessidade de imposição de sanções por motivos geopolíticos.

Em 2021, a Rússia foi a origem de 2,6% de todas as importações brasileiras, classificando-se em 6º lugar no ranking das principais origens das importações nacionais. A maior parte dessas importações (66%) foi de adubos ou fertilizantes químicos. De todo o adubo importado pelo Brasil, 69% são provenientes da Rússia. Por outro lado, apenas 0,6% do total das exportações brasileiras foram destinadas à Rússia.

As relações comerciais entre o Brasil e a Ucrânia são de menor montante. A Ucrânia absorveu 0,08% das exportações e respondeu por 0,1% das importações brasileiras, em 2021. As importações de produtos semiacabados, lingotes e outras formas primárias de ferro e polímeros de cloreto de vinila são os principais produtos vindos Ucrânia, representando, respectivamente, 22% e 20% de todo comércio bilateral entre os dois países.

Observatório PUC-Campinas

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