25/06/2025

Acusada de racismo, moradora de Cosmópolis publica texto de retratação a Junior Felisbino

Por meio de suas redes sociais, Izabel Cristina Gagliardi se pronunciou sobre o vídeo em que utilizou a expressão “negro Felisbino” ao se referir ao prefeito do município. Confira o posicionamento na íntegra

Da redação

A moradora de Cosmópolis, Izabel Cristina Gagliardi, publicou nesta quarta-feira (25) uma retratação em suas redes sociais após a repercussão de um comentário feito em um vídeo gravado na terça-feira (24), no qual criticava obras municipais na Avenida Centenário.

No vídeo, ela se referiu ao prefeito Junior Felisbino com a expressão “negro Felisbino”, o que gerou forte reação de autoridades e moradores sobre o teor racista da fala.

A seguir, o pronunciamento na íntegra, conforme publicado por Izabel em suas redes:

“RETRATAÇÃO DIRIGIDA AO JUNIOR FELISBINO – PREFEITO DE COSMÓPOLIS

Ontem 24/06/2025 enquanto fazia um vídeo sobre a falta d’água na cidade e que estavam fazendo conserto da rede de água – adutora na Avenida Centenário

em um momento de forte problema emocional me excedi e não querendo ofender mas salientar que o mesmo é o primeiro prefeito negro na história de Cosmópolis mas infelizmente não está se destacando como pessoa chamei-o de negro Felisbino em nenhum momento de forma pejorativa somente falando da sua origem que não é ofensa. Cada ser humano deve se orgulhar da sua origem.

A minha indignação é contra essa administração de prefeito não contra a pessoa do mesmo. Votei nele na primeira eleição confiando que faria a diferença na cidade porém a situação da nossa cidade está fora do controle administrativo.

Informo a todos que já enviei um WhatsApp ao gabinete do prefeito solicitando uma audiência para me retratar pessoalmente e até o momento não fui atendida.

Peço profundas desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas com a palavra usada por mim mas em nenhum momento as distratei.

Complemento sobre meu pensamento.

Sempre tive admiração por Martin Luther King Jr ., ativista e um dos principais líderes negro da história recente nos EUA contra a discriminação racial. “I have a dream”

“E digo-lhes hoje, meus amigos, mesmo diante das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho, um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e experimentará o verdadeiro significado de sua crença: ‘Acreditamos que essas verdades são evidentes, que todos os homens são criados iguais’ (sim).

Eu tenho um sonho de que um dia, nas encostas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos sentarão ao lado dos filhos dos antigos senhores, à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho de que um dia até mesmo o estado do Mississippi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, sufocado pelo calor da opressão, será um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter (Sim, Senhor). Hoje, eu tenho um sonho!

Eu tenho um sonho de que um dia, lá no Alabama, com o seu racismo vicioso, com o seu governador de cujos lábios gotejam as palavras ‘intervenção’ e ‘anulação’, um dia, bem no meio do Alabama, meninas e meninos negros darão as mãos a meninas e meninos brancos, como irmãs e irmãos. Hoje, eu tenho um sonho.

Eu tenho um sonho de que um dia todo vale será alteado (sim) e toda colina, abaixada; que o áspero será plano e o torto, direito; ‘que se revelará a glória do Senhor e, juntas, todas as criaturas a apreciarão’ (sim). Esta é a nossa esperança, e esta a fé que levarei comigo ao voltar para o Sul (sim). Com esta fé, poderemos extrair da montanha do desespero uma rocha de esperança (sim). Com esta fé, poderemos transformar os clamores dissonantes da nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade.

Com esta fé (sim, Senhor), poderemos partilhar o trabalho, partilhar a oração, partilhar a luta, partilhar a prisão e partilhar o nosso anseio por liberdade, conscientes de que um dia seremos livres. E esse será o dia, e esse será o dia em que todos os filhos de Deus poderão cantar com um renovado sentido:

O meu país eu canto. Doce terra da liberdade, a ti eu canto.

Terra em que meus pais morreram, / Terra do orgulho peregrino, / Nas encostas de todas as montanhas, que a liberdade ressoe!

E se a América estiver destinada a ser uma grande nação, isso se tornará realidade.

E, assim, que a liberdade ressoe (sim) nos picos prodigiosos de New Hampshire.

Que a liberdade ressoe nas grandiosas montanhas de Nova York.

Que a liberdade ressoe nos elevados Apalaches da Pensilvânia.

Que a liberdade ressoe nas Rochosas nevadas do Colorado.

Que a liberdade ressoe nos declives sinuosos da Califórnia (sim).

Mas não apenas isso: que a liberdade ressoe na Montanha de Pedra da Geórgia (sim).

Que a liberdade ressoe na Montanha Lookout do Tennessee (sim).

Que a liberdade ressoe em toda colina do Mississippi (sim). Nas encostas de todas as montanhas, que a liberdade ressoe!

E quando acontecer, quando ressoar a liberdade, quando a liberdade ressoar em cada vila e em cada lugarejo, em cada estado e cada cidade, anteciparemos o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, juntarão as mãos e cantarão as palavras da velha canção dos negros:

Livres afinal! Livres afinal!

Graças ao Deus Todo-Poderoso, / Estamos livres afinal!”

A seguir, um trecho deste discurso feito por ele, em vídeo com reconstituição em cores:

Análise do discurso I Have a Dream (“Eu Tenho um Sonho”)

O discurso de Martin Luther King Jr., tornou-se emblemático não apenas por seu conteúdo e motivação, mas também por sua forma, técnica e qualidade retórica. É considerado um dos melhores discursos de todos os tempos e também o melhor do século XX.

Seu discurso emblemático foi elaborado em caráter profético, pois lança o olhar sobre um futuro com uma realidade diferente e melhor. Neste sentido, aparece uma forte presença das virtudes cristãs: fé e esperança, principalmente.

Martin Luther King precisava encorajar os presentes, pessoas acostumadas a sofrer com a segregação, divididas entre agir com violência ou não.

O pastor ativista dos direitos civis negros disse que o dia 28 de agosto de 1963 entraria para a história, o que de fato aconteceu.

Para compreender melhor o contexto do problema e da violência racial nos EUA, assista ao episódio 2 da trilogia gratuita O FIM DAS NAÇÕES.

Referência a Abraham Lincoln

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Monumento em Washington representando Abraham Lincoln.

Em seu discurso, ele diz que há cem anos um grande americano assinou a Proclamação de Emancipação, pondo fim à escravidão. Disse também que eles estavam simbolicamente sob sua sombra.

Ao dizê-lo, ele estava se referindo ao ex-presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, que em 1º de janeiro de 1863 proclamou a libertação dos escravos.

De fato, estavam sob sua sombra, pois no local do discurso há uma estátua do presidente, com mais de 9 metros.

Ele também fez uma citação direta a uma fala de Thomas Jefferson, presente na Declaração de Independência:

“Afirmamos que estas verdades são evidentes; que todos os homens foram criados iguais”.

Assim, chamou a atenção para algo que não estava sendo vivido, que não estava acontecendo.

Os arquitetos da República

Ao citar a Constituição e a Declaração de Independência, ele faz referência aos arquitetos da República.

São eles: John Adams, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, John Jay, Thomas Jefferson, James Madison e George Washington. Estes foram os envolvidos na redação dos importantes documentos fundadores dos Estados Unidos.

Desobediência civil

Em seu discurso, Martin Luther King propôs enfrentar a força física com a força da alma. Sua proposta era a de uma luta completamente sem violência.

Alguns grupos como o Malcolm X e a Nação Islã defendiam que todos os meios eram lícitos para combater a discriminação, mas Luther King propôs a estratégia da desobediência civil e não a da violência.

Isto significa opor-se à obediência de leis injustas de forma pacífica.

O governador do Alabama

O governador do estado do Alabama encorajava a segregação entre raças e se opunha veementemente aos direitos civis. Seu nome era George Wallace e ele também recebeu uma menção no discurso de Martin Luther King.

Por isso, ele foi enfático sobre as crianças negras e brancas darem-se as mãos no Alabama.

A este respeito, conheça Ruby Bridges, a primeira criança negra a estudar em uma escola exclusiva para brancos:

Isaías 40,4-5

Sabemos que Luther King Jr. era pastor assim como seu pai e seu avô. Em seu discurso, diz que todo vale será exaltado, todas as colinas e montanhas serão niveladas […] e a glória do Senhor será revelada e todos os seres verão, juntamente. Esta é uma passagem bíblica, que está no livro do profeta Isaías.

A fé é um elemento importante no discurso de Luther King, pois ele inflama seus ouvintes a crer que as coisas mudarão para melhor e que vale a pena ter esperança.

My Country ‘Tis of Thee

Este é o nome de uma canção patriótica com ideais americanos, como a liberdade. Um trecho dela também está presente no discurso:

“Meu país é ti, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, de cada montanha que ressoe a liberdade”.

Por esta razão, ele repete várias vezes a expressão “que ressoe a liberdade”. No final do discurso, os presentes cantaram esta canção de mãos dadas.

A importância da repetição

Em vários momentos do discurso de Martin Luther King Jr. vemos repetições de frases:

“Eu tenho um sonho” (I have a dream);

“Ressoe a liberdade” (Let freedom ring).

Um dos principais elementos de um bom discurso é a repetição que cria um ritmo e leva à memorização. Assim, o orador termina, mas os ouvintes continuam a recordar-se do âmago do que foi declarado.

Ao repetir “eu tenho um sonho”, Luther King imortalizou o principal aspecto de seus discurso na luta pelos direitos civis: o sonho da igualdade no tratamento digno entre as pessoas.

Ethos, Pathos e Logos no discurso de Martin Luther King

Do grego Ethos deriva a palavra ética. Este é um elemento que pode estar no discurso, que se vincula à moralidade de quem discursa.

Luther King era um pastor e um líder ativista reconhecido, presente junto àqueles com quem lutava. Ele era uma autoridade, e por ser ele quem falava, havia uma credibilidade maior nas palavras. Ele inspirava confiança nos ouvintes. Estavam ouvindo alguém ético, contrário à violência.

Sua voz também era um elemento que contribuía para sua autoridade, pois falava com firmeza, certeza e gravidade.

Do grego Pathos deriva a palavra empatia. Em um discurso, isto representa a emoção gerada no público, o sentimento. Este é o aspecto mais forte no discurso de Martin Luther King.

Ao abordar a fé, os sonhos, a liberdade, o futuro realizado daqueles que sofrem, ele está dialogando diretamente com a dor daqueles que o ouvem, ao mesmo tempo em que conduz cada um a acreditar que isto vai acabar.

De Logos, temos a lógica. Embora seu discurso não seja intelectual, difícil de ser entendido ou pedagógico, notamos uma sequência lógica, fundamentada e ordenada. Ele contextualiza o problema, retoma a história e faz citações.

Os dois atos do discurso

Separando o discurso em dois atos, notamos um que descreve o problema, enumera as injustiças, propõe a desobediência civil no lugar da violência, e enfatiza que a conquistas históricas do país estavam sendo ignoradas.

Nesta primeira parte, fica evidente que mesmo que esteja escrito que todos são iguais, não é o que está acontecendo, por causa de pessoas ruins.

No segundo ato do discurso de Martin Luther King, notamos as projeções futuras. Os problemas ficaram para trás e ele agora olha para uma realidade onde não haverá o sofrimento do presente.

Seu sonho envolve liberdade para os negros estarem onde quiserem, e mais adiante, seu sonho envolve a reunião daqueles que verão, juntos, a glória do Senhor.

Eu estive no topo da montanha

Este foi o último discurso de Martin Luther King, antes de morrer assassinado.

Sem anotações, aparentemente de forma não premeditada, ele discursou para 11 mil pessoas em Memphis:

“Como qualquer pessoa, eu gostaria de viver uma longa vida. A longevidade tem seu lugar. Mas eu não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus. E ele me permitiu subir a montanha. E eu olhei em volta e vi a Terra Prometida. Talvez eu não entre lá com vocês, mas eu quero que saibam, esta noite, que nós, como um povo, entraremos na Terra Prometida. Então, eu estou feliz essa noite. Eu não estou preocupado com nada. Eu não estou com medo de nenhum homem. Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor”.

Ouça abaixo o discurso do próprio Martin Luther King:

Não seria a primeira vez que ele falava que tinha contemplado a Terra Prometida. Não estava vivendo um perigo maior do que já havia vivido. Em vários momentos, ele também havia falado de morte:

“Se você não descobriu por que está disposto a morrer, não merece viver”.

Por causa de um ataque que sofrera com estilete, ele carregava no peito uma cicatriz, que envolvia uma possibilidade de morrer por complicações na aorta, no coração:

“Toda manhã, quando escovo os dentes e lavo o rosto, esta cicatriz em forma de cruz no peito me lembra que qualquer dia pode ser o meu último nesta terra”.

Andrew Young, confidente de Luther King, e que estava com ele naquele dia, afirmou que nunca o havia visto tão abatido. No entanto, ele deixou isso de lado e proferiu sua última profecia.

Como Martin Luther King morreu?

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Ilustração representando Martin Luther King.

No dia seguinte ao de seu último discurso, aos 39 anos, levou um tiro e sua morte foi instantânea. A bala acertou a espinha dorsal logo abaixo do queixo.

O pastor Martin Luther King Jr. foi assassinado em 4 de abril de 1968, enquanto se preparava para uma marcha civil em Memphis, no Tennessee. Não se sabe de quem foi a autoria do crime e “quem matou Martin Luther King” é ainda uma pergunta sem resposta.

A notícia do assassinato se espalhou e revoltas proliferaram-se pelo país. Foi a maior onda de violência urbana desde a Guerra Civil. Grandes áreas metropolitanas foram queimadas, e em menos de um mês, mais de 40 pessoas morreram nos protestos.

Os prejuízos, ajustados aos valores de hoje, chegaram aos 161 milhões de dólares.

Após sua morte, ele recebeu homenagens, por exemplo:

Medalha Presidencial da Liberdade, em 1977, entregue à sua esposa.

Medalha de Ouro do Congresso em 2004, pelos 50 anos da promulgação da Lei dos Direitos Civis.

Em 1986, foi estabelecido o dia de Martin Luther King (Martin Luther King Day) como feriado federal nos EUA. Desde então, ele é lembrado desta forma especial em 20 de janeiro”.

Texto parcial copiado do Brasil Paralelo.”

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