08/07/2024

Cosmopolense pede ajuda após perna amputada

Apesar de cega, Regina Milani é conhecida por seu trabalho com estética automotiva. Recentemente, ela perdeu os rins e a perna após necrose decorrente de diabetes

Regina trabalhava com estética automotiva, em Cosmópolis. Ana Paula é artista e produz artes sacras (FOTO: Portal ON)

Raquel Santana

“Não temos mais o que fazer. A você, só cabe ficar do lado dela e rezar, porque a vida dela está por horas”, foram as palavras ecoadas para Ana Paula Reis Milani, de 52 anos, ditas por um médico especialista quando sua esposa, Regina Célia Milani, foi internada com necrose na perna, no segundo semestre de 2023. O impacto foi devastador, mas também marcou o início de uma jornada de coragem e superação.

Aos 55 anos, Regina é uma figura conhecida em Cosmópolis por seu trabalho na estética automotiva. Apesar de ser cega – condição que desenvolveu após os 30 anos, por meio de uma diabetes – sua habilidade em uma profissão predominantemente visual lhe rendeu reconhecimento e respeito.

Hoje, Ana Paula e Regina enfrentam uma rotina repleta de novos desafios e adaptações, após superarem um obstáculo que quase tirou a vida de Regina e a afastou de sua principal fonte de renda, tornando a nova realidade ainda mais desafiadora. Neste momento delicado, elas estão abertas e aceitam qualquer tipo de ajuda, seja apoio emocional, assistência prática ou recursos financeiros, para ajudar Regina em sua recuperação e na retomada das atividades diárias.

Momento em que Regina foi presenteada com uma cadeira de rodas por um amigo de São Paulo (Arquivo pessoal/Ana Paula Milani)

Como tudo aconteceu

No início do segundo semestre de 2023, Regina foi afastada do trabalho devido a uma nova complicação de sua diabetes. Uma necrose na perna direita resultou na amputação do membro. Porém, antes da cirurgia, ela enfrentou meses de descaso médico.

O problema começou após um dia de trabalho, quando Regina sentiu seu pé direito ficar gelado e imóvel. Preocupadas, ela e sua esposa, Ana Paula, foram ao Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp), onde chegaram a aguardar mais de 18 horas por atendimento. Os médicos inicialmente minimizaram a gravidade da situação, afirmando que o pé de Regina voltaria ao normal, mas ela já não conseguia andar.

“Passamos por vários médicos, fizemos muitos exames e ficamos horas no pronto-socorro esperando atendimento, mas não conseguiam dar uma solução”, explica Regina.

Elas aguardavam uma angiotomografia, exame que confirmaria a necrose, quando uma residente vascular afirmou que não havia necessidade, pois considerava o problema ortopédico devido à dor na planta do pé. Regina foi então enviada a um ortopedista, que rapidamente reconheceu o problema e redirecionou o caso de volta ao vascular.

“O ortopedista olhou para nós e disse: ‘O que é isso? Piada?’. Eu também achei, mas estávamos apenas seguindo as orientações”, conta Ana Paula. A médica residente novamente não concordou com o parecer do ortopedista e mandou Regina de volta para casa, sob efeito de morfina.

A esposa ainda conta que, durante todo o dia em que a esposa ficou no hospital com dores intensas, aplicavam a medicação nela. Regina havia passado recentemente por um traumatismo craniano e, com a quantidade excessiva de morfina administrada, perdeu completamente a memória e a noção de realidade. Ela não sabia quem era, onde estava ou o que estava acontecendo.

Traumatismo craniano

Anterior ao incidente envolvendo seu pé, no dia 2 de julho de 2023, segundo relatos de Ana Paula, Regina caiu dentro de casa, tropeçando um pé no outro. Ela bateu a cabeça na parede, o que resultou em um traumatismo craniano.

Após o acidente, ela precisou ficar quatro dias internada devido a uma hemorragia no cérebro. Durante atendimento médico, foi constatado que Regina poderia ficar com algum tipo de sequela. Hoje, ela sofre com problemas de memória.

Perda de consciência, estado grave e amputação

Após retornar para casa sob orientação da médica residente, cerca de dois ou três dias depois, Regina não conseguia mais andar e estava completamente desorientada, sem qualquer consciência. “Uma manhã, ao tentar tirá-la da cama, percebi que o lado esquerdo do corpo dela estava paralisado. O médico que tratou do traumatismo craniano havia dito para correr ao hospital caso notasse algo diferente, pois poderia ser um AVC ou uma sequela do acidente”, relata Ana Paula.

O casal se dirigiu ao hospital de Cosmópolis, onde foram orientadas por um médico a realizar uma tomografia, que não acusou irregularidade. Contudo, o pé de Regina já estava em um estado avançado de necrose, causando dores que apenas a morfina conseguia amenizar.

“O médico viu o estado do pé dela e decidiu interná-la imediatamente. O pé estava completamente preto, com os dedos ressecados, parecendo galhos que poderiam quebrar a qualquer momento. O cheiro era insuportável”, relembra a esposa.

Regina foi então internada e colocada no sistema CROSS para tentar uma transferência para algum hospital de grande porte da região, já que a Unicamp alegava não ter vaga na área vascular. Em Cosmópolis, ela permaneceu uma semana hospitalizada em condições cada vez piores.

Foi nesta época que a infecção, decorrente da necrose, se espalhou pelo sangue, comprometendo todos os órgãos de Regina, o que resultou na paralisia dos rins. “Regina ficou extremamente inchada porque os rins paralisaram”, comenta Ana Paula. “A vaga não saía e o médico não tinha mais o que fazer. Chegou em mim e me disse: ‘Sinto muito. Não temos mais o que fazer. A você só cabe ficar do lado dela e rezar, porque a vida dela tá por horas’. Eu entrei em desespero. Pedi, pelo amor de Deus, para que fizessem alguma coisa. Eu só tenho ela [Regina] aqui”, continua.

A fé foi essencial para que Ana Paula se mantivesse forte e, apesar do fim anunciado, Regina permaneceu lutando até que uma vaga no hospital da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC) fosse disponibilizada. Lá, ela foi submetida a uma hemodiálise de emergência e outros procedimentos, que resultaram no retorno das atividades dos rins.

Entretanto, o dilema com a perna em estado de necrose seguia sem resolução e só foi ganhar atenção durante uma consulta de rotina em uma profissional endocrinologista da Unicamp, mais de um mês após a primeira consulta de emergência no hospital, com a médica residente.

Ana Paula conta que Regina foi internada, mas o estado dos rins e do coração dela era muito debilitado. Ela precisava de tempo para se recuperar antes da amputação, pois os órgãos estavam muito fracos. Foram mais 31 dias de sofrimento até que a cirurgia para amputação fosse aprovada, a qual Regina resistiu bravamente.

Mas os obstáculos não paravam de surgir. Pouco tempo após sua cirurgia, a outra perna de Regina começou a apresentar os mesmos sintomas de imobilidade e perda de temperatura. Exames acusaram necrose de todas veias, exceto a arterial, que foi salva através de uma angioplastia.

Hoje, Regina depende de uma cadeira de rodas para se locomover e se acostuma a nova vida como uma pessoa amputada. Além disso, durante três dias na semana, ela faz diálise e, diariamente, com ajuda de Ana Paula, continua tratando a quase necrose da perna esquerda.

Apoio

Atualmente, Regina e Ana Paula aceitam apoio prático e financeiro. Os gastos durante meses de tratamento e a interrupção abrupta da principal fonte de renda do casal, adquirida por meio do trabalho com estética automotiva de Regina, dificultou a organização financeira das duas.

“Para mim, toda ajuda é bem-vinda, como cadeira de rodas que ela utiliza, que não foi comprada por nós, mas sim presenteada por um amigo muito especial de São Paulo que trabalha com estética automotiva e conheceu Regina através do seu trabalho anterior. A renda simplesmente desapareceu da noite para o dia, e os gastos aumentaram drasticamente.”, relata Ana Paula.

Gasolina, pedágio, medicamentos, fraldas e tudo mais que se possa imaginar – esses sãos os principais gastos para cuidar da saúde de Regina e manter suas consultas médicas e diálise em dia. “Não tenho vergonha de admitir isso, precisamos para manter as despesas em dia e ainda estamos pagando dívidas acumuladas, especialmente as do cartão de crédito. Eu fui parcelando tudo na hora do desespero para salvar a vida dela e faria tudo novamente”, afirma a esposa.

Dia após dia, mesmo diante das preocupações, das batalhas e das noites mal dormidas, o casal mantém firme a fé. O amor que compartilham e o apoio mútuo são as forças que cada uma encontra para enfrentar essa nova e desafiadora fase da vida.

Aos interessados em conhecer mais sobre a situação de Regina e Ana Paula, ou ajudar com doações de qualquer tipo, podem entrar em contato pelo telefone (19) 99239-6090 (Ana Paula).

Ana Paula e Regina estão juntas há 8 anos (Arquivo pessoal/Ana Paula Milani)

……………………………………………………………

Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal ON

É expressamente proibido cópia, reprodução parcial, reprografia, fotocópia ou qualquer forma de extração de informações do site Portal ON sem prévia autorização por escrito do Portal ON, mesmo citando a fonte. Cabível de processo jurídico por cópia e uso indevido.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.