Escola Rodrigo celebra 100 anos como símbolo da educação em Cosmópolis
Instituição pública comemora o centenário com orgulho das memórias construídas e do papel essencial na formação de gerações
O atual prédio da Escola Rodrigo foi inaugurado em 1967 no bairro Bela Vista (FOTO: Portal ON)
Raquel Santana
Incontáveis pares de pés cruzam, dia após dia, o chão claro daqueles corredores, banhados por luz natural que entra pelas janelas altas. Em Cosmópolis, o edifício se impõe com nobreza, guardado por seringueiras imensas, ocupando um quarteirão inteiro como se fosse um mundo à parte.
Por toda a cidade se ouve: “Eu estudei lá!”. Cada ex-aluno com sua lembrança, cada memória carregada de saudade… Saudade do sinal tão característico que anunciava o fim das aulas. Do pátio amplo, onde hinos nacionais ecoaram por vozes pequenas e grandes. Das salas de aula, palcos de descobertas. Dos professores, dos colegas, da rotina.
FOTO: Portal ON
Esse lugar onde tantas vidas se entrelaçaram tem nome: EMEB Rodrigo Octávio Langaard Menezes. Neste domingo, 1º de junho, a escola completa 100 anos de existência, um século de educação, memórias e contribuições para a formação de gerações.
Consolidada como referência no ensino público de Cosmópolis, a escola Rodrigo é mais do que um prédio: é parte viva da identidade da cidade. Fez, e continua fazendo, parte da trajetória de inúmeros cosmopolenses.
Conheça a história de fundação da escola Rodrigo – Reportagem especial publicada em 2022
“Minhas filhas falam para mim: ‘Eu não sei o que vai ser de você sem a escola Rodrigo”, conta Maria Dulce Scorsoni. Aos 69 anos, a professora carrega mais de 25 deles vividos intensamente entre os corredores da escola. Só sente orgulho, afirma.
Foram dias e noites imersos entre lições, papéis, tesouras e ideias, sempre pensando em atividades que pudessem contribuir com o ensino da escola. Maria Dulce não hesita em afirmar: aquele lugar é a sua vida. “Já fui trabalhar em algumas escolas, até para fazer provas, coisas assim. Mas é quando eu chego aqui que falo: ‘Ai que delícia! Cheguei em casa’. É muito bom”.
Da direita: Maria Dulce, Maria Cristina, Daniela, Silvana, Mirlene e Andrea (FOTO: Portal ON)
Ela conta seu relato ao lado da colega de profissão, Maria Cristina Pedroso da Silva Perette, de 54 anos. Juntas, as duas “Marias” formam a dupla de professoras mais antigas da escola Rodrigo ainda em atividade. Cristina, prestes a completar 30 anos dedicados à instituição, também não esconde o amor pela escola.
“A escola Rodrigo sempre foi referência, né? Então, a gente tem esse orgulho de fazer parte e de estar sempre fazendo o melhor a cada ano, pra cada turminha que a gente trabalha”, Maria Cristina se pronuncia.
Ela, que esteve à frente da direção da escola entre 2013 e 2017, fala com facilidade e brilho nos olhos sobre o lugar que se tornou extensão de sua própria história. “É uma escola muito bem-conceituada. Ouvi muitas vezes mães dizerem que era o sonho da família ver o filho estudando aqui.”
Mais do que ensinar a escrever, as duas Marias aprenderam a ler o tempo. Viram gerações se modificarem, presenciaram a chegada da tecnologia, a mudança nas famílias, nos comportamentos, no olhar da sociedade para a escola. “Hoje, as crianças são diferentes. Estão mais agitadas, mais conectadas. Mas a gente segue com o mesmo compromisso: despertar o interesse, envolver, cuidar, ensinar”, reforça Cristina.
E nestes cem anos de história, a escola Rodrigo sempre chamou atenção pela qualidade do ensino. “Ela é top na cidade, do primeiro ao quinto ano. As professoras, sempre muito excelentes. Um aprender eficiente e gostoso”, afirma Maria Amélia Carone Dias Arruda, de 83 anos.
Sentada no sofá de sua sala, Maria Amélia relembra, com ternura, a trajetória de mais de 25 anos vividos entre os corredores da escola. Seu nome é familiar a muitos que passaram pela instituição. Durante 15 anos, entre idas e vindas, ela ocupou o cargo de diretora.
Maria Amélia (na esquerda) junto de Neusa Kiehl, Medley Libanori, Lídia Onelia e Venina Godoy – Formatura da pré-escola em 1971 (FOTO: Arquivo)
“Aquela escola, eu amo. Sempre fez parte da minha vida”, diz ela, emocionada. A trajetória de Maria Amélia, ex-diretora da EMEB Rodrigo Octávio Langaard Menezes, se entrelaça com a própria história da instituição. Ela também foi testemunha da chegada de novas gerações, das transformações estruturais e sociais, dos tempos de fervor e união.
“Fizemos festas, excursões, projetos. Havia uma sintonia verdadeira. Todo mundo fazia tudo. Merendeiras, professores, inspetores… Era uma família”, recorda, com brilho nos olhos.
O nome de Maria Amélia ainda ecoa nos corredores da memória de muitos ex-alunos. “A gente anda na rua e ouve: ‘Olha ali, a Maria Amélia do Rodrigo’”, conta Cassia Carone, filha da ex-diretora, sentada ao seu lado. Cássia é uma entre os três filhos de Maria Amélia , todos professores, todos ligados, de alguma forma, à escola Rodrigo.
Cassia e Maria Amélia, atualmente aposentadas (FOTO: Portal ON)
Ela própria foi aluna da instituição. E das mais marcantes. Maria Amélia lembra, rindo, que a filha era uma daquelas estudantes “difíceis”, cheia de energia, capaz de desestabilizar até os mais experientes professores. “A professora do primeiro ano não quis mais a turma por causa dela, sempre espivetada, inquieta. Então eu mesma assumi a classe. Foi um tempo especial”, relembra, com ternura.
Foi assim que Maria Amélia ensinou a própria filha a ler e escrever. Nos corredores da escola Rodrigo, mãe e filha compartilhavam dias intensos. O tempo passou. Cassia cresceu, amadureceu e, inevitavelmente, seguiu os passos da mãe.
Não demorou para que a menina traquina retornasse à escola, agora como professora, para dar aulas nas mesmas salas onde aprontou, aprendeu e sonhou. “Eu sou professora hoje por causa da minha mãe”, diz Cassia, com convicção. Caminhar pelos corredores da escola Rodrigo não era apenas exercer um ofício: era, para ela, continuar uma história escrita a muitas mãos.
Cassia lecionou na escola Rodrigo por quase 30 anos (FOTO: Arquivo pessoal)
Hoje, as duas lembram com carinho e saudade de todos os momentos naquele lugar; dos trabalhos conjuntos, da fanfarra, dos passeios e dos incontáveis HTPCs (Horário de Trabalho Pedagógico). “Na época não tinha Google, mas ela era a enciclopédia”, diz Cassia, com aquele misto de orgulho e humor de quem sabe bem do que está falando.
E era mesmo. Toda semana, nos HTPCs, lá vinha Dona Maria Amélia com alguma novidade. “Era muito legal.”, relembra a filha. Legal mesmo. Porque, segundo ela, “tinha professores que não tinham acesso a tanta informação”, e era justamente nos HTPCs que tudo isso aparecia, fresco, saído do forno da curiosidade. E o melhor: sempre tinha alguém que soltava, surpreso, “ninguém sabia disso!”. Pronto. Estava feito o dia.
E não era só propagar conhecimento que entusiasmava Maria Amélia dentro das paredes da escola Rodrigo. Se tivesse tambor, ela já se arrepiava. Fanfarra, para ela, não era só barulho bonito, era paixão de longa data. “Eu amo a fanfarra”, confessa sem rodeios, como quem fala de um grande amor de juventude que nunca passou.
Ah, era uma alegria. Um bumbo bem dado, um surdo vibrando e pronto: Maria Amélia já estava marchando por dentro, com a coluna ereta e o orgulho no compasso.
Dava gosto de ver. O olhar brilhava. Se pudesse, ela levava a fanfarra até para as reuniões de HTPC. Porque onde tinha ritmo, tinha Maria Amélia, firme, entusiasmada e, claro, emocionada com cada “tchum-pá-tchum” que ecoava no pátio.
FOTO: Portal ON
E a vibração continua até os dias de hoje. Quando as janelas estremecem e os vidros vibram em ritmo marcial, todos já sabem: é dia de fanfarra do Rodrigo. A mesma fanfarra que há décadas emociona alunos e professores com sua musicalidade disciplinada.
Coordenada atualmente pelo professor Daniel, ela reúne 35 estudantes, todos a partir do 3º ano, que levam o ensaio com a seriedade de quem está prestes a se apresentar no sambódromo. Não faltam, não atrasam e, pasmem, ainda tem fila de espera. “Eles se dedicam. Estão sempre presentes”, conta Silvana Aparecida Batista Baracat, diretora da escola.
Fanfarra da escola Rodrigo foi fundada há mais de 35 anos (FOTO: Prefeitura de Cosmópolis)
O mais curioso? Ensaio rígido, sim, mas com entusiasmo. Para muitas crianças, é ali que nasce o gosto pela arte e pela música.
Esse mesmo espírito ecoa em outros cantos da escola. Hoje, a escola Rodrigo abriga mais de 700 alunos e conta com 80 profissionais. Sob a liderança de Silvana, a instituição segue firme na mistura entre tradição e inovação, como quem anda para frente sem esquecer as pegadas. “É gratificante. Ver os resultados do trabalho faz tudo valer a pena”, afirma ela.
Atualmente, equipe da escola é composta por mais de 70 funcionários (FOTO: Arquivo/escola Rodrigo)
A rotina, conduzida com seriedade e afeto, é feita de muitas mãos e parcerias. Silvana, junto de Andreia de Lourdes da Silveira Bortolan, Daniela Scardua Laurindo e Mirlene de Freitas Pinton Silva Franco, integrantes da equipe gestora, aposta num ensino humano, respeitoso e eficiente. Ou seja, um daqueles em que a criança não vira número de planilha, mas nome conhecido no corredor.
Equipe gestora. Da esquerda: Silvana, Daniela, Andrea e Mirlene (FOTO: Arquivo/escola Rodrigo)
Na escola, inclusão não é discurso bonito: é prática cotidiana. Trinta e dois alunos da Educação Especial recebem acompanhamento de especialistas, cuidadoras e planejamentos sob medida. “Cada aluno tem sua forma de aprender. O professor tem esse cuidado”, diz Andrea. “Aqui, a gente não enxerga o aluno com diferença, mas sim o aluno que faz a diferença, justamente por ter uma necessidade única.”
E isso muda tudo. Um trabalho que ultrapassa os muros, com uma equipe que se esforça para acolher as famílias, entender suas histórias, construir laços sólidos entre casa e escola.
FOTO: Portal ON
Enquanto isso, a tecnologia vai se infiltrando com jeitinho. “Atualmente, temos quatro salas com televisão instalada, mas a nossa meta é equipar todas as salas com televisores, garantindo que cada uma tenha esse recurso disponível”, explica Mirlene.
E, não é raro ver um professor projetando um livro na tela, transformando a leitura em espetáculo coletivo. Outros preferem o giz e a lousa, firmes na tradição. Mas todos, cada um ao seu modo, seguem o mesmo compasso: despertar o interesse. E, se possível, fazê-lo vibrar, como as janelas, nos ensaios da fanfarra.
FOTO: Portal ON
No pátio da escola, um bosque de seringueiras abraça o terreno. Altas, imponentes, elas acompanham discretamente as transformações da escola há décadas. Seus galhos já cobriram recreios, atividades, brincadeiras. Hoje, ainda que mais protegidas por questões de segurança, seguem sendo referência no imaginário infantil.
“As crianças desenham as árvores, falam das árvores, têm carinho por aquele lugar”, conta a professora Maria Dulce. A área arborizada é, para muitas gerações, sinônimo de liberdade.
E talvez não haja melhor imagem para a escola Rodrigo do que essas árvores. Assim como elas, a escola criou raízes profundas. Cresceu em todas as direções e ainda guarda, em cada galho, o traço de quem por ali passou.
Em cem anos, a escola formou mais do que estudantes. Formou vínculos, sonhos, professores, famílias. E continuará formando, enquanto houver passos nos corredores, vozes nas salas e sombra no pátio. Porque uma escola como a Rodrigo não é feita só de tijolos e carteiras. É feita de tempo. É feita de gente. É feita de raízes.
Seringueiras no pátio da escola são testemunhas silenciosas de décadas de aprendizado e convivência (FOTO: Portal ON)
Cada história contada nesta reportagem é apenas um ponto — um pequeno ponto — na imensidão dos 100 anos da Escola Rodrigo. São fragmentos de uma trajetória que se construiu no empenho de inúmeros professores, na alegria dos alunos e, sobretudo, no trabalho incansável dos mais de 25 diretores que passaram pela instituição desde sua fundação.
Entre eles, estão nomes como Lídia Onélia, Ivette Sala, Fernando Bertazzo, Roseli Giuzio, Laércio Ferreira, Elide Emília, José Gregório e tantos outros nomes que deixaram sua marca.
Nesta celebração centenária, a escola recebe um presente à altura de sua história: um novo hino, exclusivo, que será entoado como símbolo de tudo o que foi e de tudo o que ainda será. A seguir, em primeira mão, o Hino da Escola Rodrigo:
No dia primeiro de junho, há mais de cem anos,
Nascia um sonho:
Fundar uma escola pra ser referência
Na nossa cidade universo.
Um homem louvável, Rodrigo Menezes, Um nome pra ser preservado
Tornou-se patrono e presente no tempo, Pra sempre um nome honrado.
Refrão
Escola Rodrigo, um lugar de esperança,
Futuro da nossa nação.
Aqui se cultiva o saber e o respeito, formando um bom cidadão.
Escola Rodrigo, com sonhos e livros,
Unidos por algo maior.
Honrando o passado, construindo o presente,
Formando um futuro melhor.
A nossa escola venceu o caminho
Com honra, coragem e força.
Já é centenária, motivo de orgulho, um símbolo municipal.
Formando talentos com muita excelência
No ensino e na aprendizagem.
Gerando esperança de um mundo melhor
No caminho da nossa cidade
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