23/01/2025

Médicos de Engenheiro Coelho relatam atraso em pagamentos meses após término de serviços

Os profissionais, que tiveram a rotina mudada pela lacuna dos pagamentos, incorreram sem sucesso em tentativas de obter informações sobre salários

O P.A.I. (Pronto Atendimento Imediato) de Engenheiro Coelho – Imagem: reprodução

Felipe Pessoa

Diversos médicos que trabalhavam na rede pública de saúde de Engenheiro Coelho estão relatando falta de pagamentos pelo tempo de serviço exercido. Alguns dos atrasos se acumulam há meses, sem respostas consistentes.

O médico Victor Neves Alves Borges, 27, afirma que seu último pagamento foi feito em julho de 2024, e que ficaram em aberto os pagamentos referentes aos meses de agosto e setembro. “Durante os 06 meses de PAI [Pronto Atendimento Imediato] de Engenheiro Coelho, eu me dediquei integralmente ao meu cargo e à população. Nunca tive atrasos nas minhas chegadas e sempre passei do horário inúmeras vezes, para transferência de pacientes”, conta Victor.

O médico afirma que os problemas com pagamentos aconteceram apenas enquanto a prefeitura, à época tendo a frente o ex-prefeito Zeedivaldo Miranda, mantinha contrato com a empresa Iaki. “A empresa fala que falta repasse da prefeitura e a prefeitura fala que já foi feito o repasse. A empresa nova que entrou até agora não atrasou os pagamentos”, explicou.

“Após o ocorrido, a minha vida e a da minha mulher viraram de cabeça para baixo. Como eu trabalhava quatro vezes por semana, fazendo uma carga horária de 48 horas semanais, lá (PAI de Engenheiro Coelho) era minha única fonte de renda (…). Antes eu conseguia trabalhar e estudar para minha especialização, o que, agora, se tornou impossível.”

“Não foi apresentado nenhum cronograma para pagamento. Todas as datas dadas não foram cumpridas, e, agora, referiram que, enquanto a prefeitura não repassar, eles também não teriam dinheiro para tal”, relatou.

Marcelo de Carvalho Souza, 40, também médico, relata que não recebe os pagamentos desde setembro de 2024. “Só fiquei sabendo o motivo real na última semana, por uma reunião, em que passaram que o problema é na prefeitura, que não fez o repasse”, explicou.

“No início, foi péssimo, porque tinha contas a pagar e, como tenho duas casas para manter, foi bastante complicado, mesmo (…). Tive que fazer mais plantões nos meses seguintes, em que deixei de dar plantões lá, para poder pagar minhas contas em dia”, relatou o médico.

Marcelo explicou que tentou pressionar os empregadores dando a eles uma data limite para os pagamentos. Quando o período chegou, sem ter sido pago, ele resolveu encerrar o vínculo empregatício. “Tentamos buscar informações e cobramos várias vezes, e (recebíamos) sempre a mesma desculpa: ‘vamos pagar na sexta, não temos previsão’. Como falei, toda hora é (fornecida) uma data (diferente) para o pagamento. Eu já estou buscando por meio de justiça receber pelo que trabalhei”, contou.

Outra médica que trabalhou no PAI, Mikaela Dorine da Silva, 28, afirmou que está sem receber os pagamentos desde agosto. “A empresa que faz nosso pagamento afirma que a Prefeitura não realizou o repasse”, disse a profissional.

“Desde agosto o impacto tem sido grande, visto que, na época, recusei outras propostas para ficar exclusivamente, por duas vezes na semana, no Pronto Atendimento”, relatou a médica. “A prefeitura estava afirmando que fez o repasse, e a empresa falava que não. Ninguém nos deu data ou algo concreto em relação aos pagamentos”.

Mikaela afirma que sua organização financeira foi totalmente alterada em decorrência dos atrasos. “Antes, eu tinha uma rotina, sabia como seria minha semana, conseguia me programar para realizar minhas outras atividades. Hoje, já não tenho mais isso. Aceito os plantões que estão pagando à vista, com medo de tomar outro calote”, contou.

Ela disse também que teve acesso a cronogramas fornecidos pela empresa, mas que “nada se concretizou”. Ela precisou se desligar do PAI.

O Portal On contatou outros 11 médicos que supostamente também estariam com pagamentos atrasados, mas não obtivemos retorno.

O Portal On também tentou contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Engenheiro Coelho já sob a gestão de Pedro Franco, questionando a posição atual da administração ante aos problemas. Até a publicação da matéria, a prefeitura não retornou o contato.

A instituição Iaki Saúde, que foi citada pelos médicos e também foi contatada pelo Portal On, declarou ser uma organização sem fins lucrativos e que sua participação na operação com a prefeitura consistia apenas em efetuar repasses financeiros entre o Executivo e o Instituto Maria Josefina, com quem era mantido o contrato.

Em nota, a empresa afirmou que “o instituto Maria Josefina, que possuía contrato junto ao Município de Engenheiro Coelho, segue efetuando todas as cobranças em atraso que o Município deixou de cumprir. Atualmente, as prioridades de pagamento são os funcionários celetistas e a mão de obra médica. Até a próxima sexta-feira [27 de dezembro], iremos distribuir ação de cobrança em face da Prefeitura para arcar com todos os prestadores. Tudo que for repassado pelo Município será destinado a arcar com essas pendências, causadas pelo não repasse da Administração Municipal de Engenheiro Coelho.”

Não é a primeira vez que médicos que atuaram no PAI relatam falta de pagamentos. Em 16 de outubro de 2024, uma quarta-feira, os atendimentos no PAI sofreram uma paralisação. Em poucas horas, o acúmulo de pacientes e a falta de atendimentos deram início a aglomeração de moradores no local. O Portal On noticiou o fato. A versão dos médicos era que a pausa se devia à falta de pagamentos.

Vereadores que acompanhavam a situação no local também alegaram falta de manutenção nas ambulâncias e “preocupação com o cenário da saúde local”. Médicos plantonistas afirmaram que prestariam atendimento somente em caso de emergência.

A administração de Zeedivaldo Miranda, na época, se posicionou por meio de nota, após a publicação de uma matéria sobre o ocorrido. Relembre a nota:

“A Prefeitura de Engenheiro Coelho, por meio da Secretaria de Saúde, informa que o atendimento no Pronto Atendimento (PAI) não foi suspenso. No momento, estão sendo realizados apenas atendimentos de urgência e emergência.

Esclarecemos que o contrato com a empresa responsável pelo serviço médico no município chegou ao fim, conforme já era esperado. A quitação dos profissionais e a elaboração de um novo contrato estão sendo solucionadas pela Secretaria de Saúde e pelo Departamento Jurídico, visando garantir a normalização dos serviços o mais rápido possível.”

Na quinta-feira (17), a Prefeitura de Engenheiro Coelho afirmou que as consultas do PAI haviam sido normalizadas, em uma atualização da publicação de um dia antes. Um trecho adicionado à nota informou que uma nova empresa havia sido contratada para realizar os serviços médicos.

“Na data desta quinta-feira, 17/10, o serviço médico foi normalizado no PAI, e todos os atendimentos estão sendo realizados normalmente, tanto os de urgência e emergência quanto os atendimentos regulares. Além disso, os serviços médicos nas unidades de saúde estarão normalizados na próxima segunda-feira, em virtude da nova contratação da empresa responsável pelo atendimento médico”, dizia a nota.

As entrevistas com os médicos que relataram a falta de pagamentos aconteceram na segunda semana de dezembro do ano passado. Entre 21 e 22 de janeiro deste ano, foram perguntados novamente sobre a situação.

Mikaela informou que ainda não havia sido paga pelos serviços. “Muito triste…”, lamentou. Victor disse que “ainda não recebemos nem um real”. “Até agora, nada”, respondeu Marcelo, e alegou em seguida que já havia acionado a justiça.


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