Clima de Páscoa: veja dicas para aproveitar o chocolate com equilíbrio
Aumento no consumo do doce durante o período acende alerta para cuidados, mas não precisa de terrorismo alimentar; nutricionista dá dicas para não prejudicar a saúde
Felipe Pessoa
Nas semanas que antecedem o feriado de Páscoa, supermercados começam a ficar abarrotados de ovos de chocolate em embalagens coloridas, chamando a atenção de quem passa pelos corredores.
O Brasil, atualmente em 6º lugar no ranking mundial de produção do cacau, também não fica atrás quando se fala no consumo do doce. Mais chegado ao chocolate ao leite, o país, em 2023, consumiu em média 3,9 kg de chocolate por habitante, número que registrou aumento de mais de 8% em relação a 2022, segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas).
Outro dado, também da Abicab, aponta que a presença do chocolate nos lares brasileiros passou de 85,5% para 92%, entre 2020 e 2024.
Amargo, meio amargo, ao leite… Tem todo tipo de opção do alimento, que chama a atenção de pessoas de todas as idades. A nutricionista Luana Calis explica que, no entanto, o consumo deve vir acompanhado de alguns cuidados. A palavra-chave do processo, para ela, é moderação.
“O chocolate contém açúcar, gordura (manteiga de cacau) e, dependendo do tipo, leite. Por isso, o consumo exagerado pode levar ao ganho de peso, aumento do colesterol, diabetes e outras doenças”, alerta Luana.
Para a nutricionista, o segredo para não descontar o desejo todo de uma vez em uma só refeição é manter todo o resto da dieta equilibrado e funcional. “Não ‘pule’ o café da manhã achando que vai compensar depois, isso só aumenta a chance de exagerar no almoço. Tome um café da manhã equilibrado, com fibras e proteínas, boas fontes de carboidratos complexos para chegar ao almoço com fome normal, e não com desespero alimentar. Leve um lanche saudável se o evento durar o dia inteiro; no momento da refeição, sente-se, coma devagar, mastigue bem. Se a reunião em família vai até a noite, leve castanhas, frutas ou até um iogurte. Assim, você não fica beliscando doces e chocolates o tempo todo”, explica.
De acordo com ela, isso é verdade mesmo no caso das crianças, que são mais suscetíveis a querer comer doces o tempo todo. “Crianças que têm uma alimentação mais equilibrada durante o dia, com fibras e proteínas, tendem a sentir menos vontade de comer doces excessivamente. Deixe o chocolate para uma ocasião especial (após uma refeição ou no lanche da tarde), sem que isso vire um consumo contínuo ao longo do dia e da semana”, diz.
Para a nutricionista, a estratégia para driblar o consumo excessivo das crianças também pode incluir medidas mais elaboradas, se necessário. No entanto, tudo deve vir acompanhado de uma conduta educativa, não repressora. “Guarde o chocolate em um local de difícil acesso e ofereça em momentos específicos do dia, para evitar o consumo por impulso. Fale sobre a importância de cuidar do corpo e da saúde de maneira leve, sem dar uma sensação de proibição”, aconselha.
Luana avalia o chocolate como o objeto principal de uma oportunidade para se desenvolver a consciência alimentar nas crianças. “Use o chocolate como uma forma de educação nutricional. O chocolate é delicioso, mas nosso corpo também precisa de energia para brincar e crescer, então vamos equilibrar o que comemos hoje para termos saúde e disposição para nos divertir!”
Sobre a culpa que vem quando se consome o doce em excesso, a profissional diz que é uma questão de como encaramos o chocolate. “É interessante pensar que a culpa vem quando a gente encara o alimento como algo proibido. Quanto mais eu proíbo, mais eu quero, é como se o cérebro pensasse ao contrário. Mas é muito importante não comer por impulso, tédio ou ansiedade. Coma porque está com vontade e aí sim, aproveite sem culpa”, aconselha.
De maneira mais prática, Luana aconselha que se compense o chocolate com outros alimentos mais nutritivos. “Se comer chocolate, compense com escolhas mais leves e saudáveis ao longo do dia (saladas, legumes, frutas, cereais integrais) e muita hidratação. Beba água! Não pule refeições ou jejue depois de comer chocolate. Isso só aumenta a compulsão e a culpa”, diz.
Para escolher melhor
Considerada uma das mais fracas no assunto, a legislação brasileira define desde 2005 que alimentos com um mínimo de 25% de cacau sejam considerados chocolate. Na Europa, por exemplo, esse número mínimo é de 35%. Isso abre brechas para que opções que levem menos da matéria-prima também estejam nas prateleiras, disponíveis para compra, uma vez que os 75% restantes podem ser compostos de gordura e açúcar, por exemplo.
Luana repete o consenso da comunidade nutricional e confirma que chocolates amargos são a melhor opção dentre as versões do doce.
“Do ponto de vista nutricional, o chocolate amargo é geralmente o mais indicado, principalmente os com teor de cacau acima de 70%. Quanto maior o teor de cacau, menor é a quantidade de açúcar adicionada”, explica. Ela exemplifica: “Um chocolate 85% cacau tem bem pouco açúcar [quando] comparado ao de leite ou branco. Outra coisa interessante é que o chocolate amargo tem menos açúcar e tende a satisfazer com menor quantidade”. O consumo, no entanto, também vem com alertas: “Mas vale lembrar que, mesmo o amargo, se consumido em excesso, é calórico, então, moderação sempre”.
A nutricionista dá dicas para escolher melhor o chocolate:
“Os ingredientes aparecem em ordem decrescente: os primeiros são os que têm em maior quantidade. Prefira chocolates que listem ‘massa de cacau’ ou ‘cacau’ logo no início. Evite os que têm açúcar, gordura vegetal hidrogenada ou xarope de glicose como os primeiros ingredientes. Quanto menos ingredientes e mais naturais, melhor”, aconselha.
“Verifique na tabela nutricional a linha ‘açúcares totais’. Idealmente, escolha produtos com menos de 10 g de açúcar por porção. Fique de olho também em nomes escondidos de açúcar, como: maltodextrina, xarope de milho, dextrose, frutose, etc.”, diz.
Luana explica que, ao contrário do que se pensa, os chamados alimentos “fit” nem sempre são a opção mais saudável. “Muita atenção aos ‘fit’, ‘zero’ e ‘light’. ‘Zero açúcar’ pode significar mais gordura ou adoçantes artificiais. Chocolates com adoçantes como maltitol ou sorbitol podem causar desconfortos intestinais em excesso. Sempre compare a tabela nutricional com o rótulo de um chocolate comum. Às vezes, o ‘fit’ tem praticamente os mesmos valores”, expõe.
A vontade de chocolate, claro, não acaba junto com a Páscoa. Isso não precisa ser motivo de medo dos “escorregões” ou das “recaídas”. Para Luana, inclusive, tem como comer chocolate e ser saudável ao mesmo tempo. “Sim, dá pra comer ovo de Páscoa e ser saudável. Alimentação saudável inclui espaço para momentos especiais. O segredo é não transformar a exceção em rotina”, diz.
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