08/04/2025

Vereador de Engenheiro Coelho indica moção de apoio a Frei Gilson e fala em ‘ataques religiosos de ateus’

Parlamentar mencionou processo da rede Canção Nova no MP-SP e uma decisão judicial proibindo leitura da Bíblia em sessões ordinárias de Engenheiro Coelho como exemplos de suposta repressão religiosa

Frei Gilson — foto: Bruno Marques/Canção Nova

Da redação

O vereador de Engenheiro Coelho Adauri Donizete da Silva (Republicanos) apresentou, na sessão ordinária da Câmara Municipal desta segunda-feira (07), uma moção de apoio ao Frei Gilson, sacerdote que acumula mais de 13 milhões de seguidores e que virou objeto de disputa narrativa entre campos políticos à esquerda e à direita nos últimos meses. A moção foi aprovada por unanimidade.

Ao pedir apoio à proposta, protocolada na Câmara no dia 18 de março, Adauri da Silva afirmou que Frei Gilson “desempenha um papel importante na religião católica” e que vem sofrendo “ataques nas redes sociais”. O vereador afirmou que câmaras de outras cidades estão fazendo movimentos semelhantes em apoio a Gilson.

Adauri afirmou que Frei Gilson foi atacado “pela crítica, pelos ateus e por pessoas que não têm nenhuma religião”.

Adauri Donizete da Silva, do partido Republicanos

Quem é o Frei Gilson?

Gilson da Silva Pupo Azevedo tem 37 anos e, além de líder religioso, é também cantor. Seu canal no YouTube reúne mais de 6 milhões de seguidores, e sua conta no Instagram, mais de 7. Em suas transmissões ao vivo, das 4 às 6 da manhã, Gilson reúne milhões de seguidores adeptos da fé católica.

No último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Gilson virou pauta no campo progressista após afirmar, durante uma de suas transmissões, que a fraqueza da mulher seria “sempre querer mais”. Grupos de esquerda acenderam um alerta com relação a Gilson, temendo tratar-se de mais um nome forte de mobilização política conservadora.

“Essa é a fraqueza da mulher. Ela sempre querer mais. ‘Eu não me contento só em ter as qualidades de uma mulher. Eu quero mais’. E isso é a ideologia dos mundos atuais. Vou até usar a palavra que vocês já escutaram muito: empoderamento. ‘Eu quero mais’. É claro ver que Deus deu ao homem a liderança”, afirmou.

A declaração não foi bem recebida por campos políticos da esquerda, que associaram a figura de Gilson, declaradamente conservador, ao bolsonarismo. Na mesma toada, representantes proeminentes de movimentos à direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, se manifestaram em apoio a Gilson. Em uma postagem, Bolsonaro disse que Gilson “cada vez mais se apresenta como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador”.

Apesar do campo narrativo aparentemente “desenhado”, houve dissenso no campo da esquerda; algumas figuras consideraram ineficiente a estratégia da militância governista de promover ataques a Gilson. O deputado federal André Janones (Avante-MG) foi um dos exemplos.

“Não basta ser rejeitado pelos evangélicos, vamos fazer uma cruzada contra os católicos também, aí a gente se elege só com os votos dos ateus em um país em que quase 80% da população é católica ou evangélica. Que tal?”, publicou Janones em uma rede social.

A disputa narrativa alçou o nome de Gilson ao debate público. A partir daí, outras falas polêmicas do líder religioso foram resgatadas. Ainda sobre mulheres, Gilson afirmou que elas teriam sido “criadas para curar a solidão” masculina e “auxiliar o homem”.

“É claro ver que Deus deu ao homem a liderança. Isso está na Bíblia. A guerra dos sexos é ideologia pura. Para curar a solidão do homem, Deus fez você [mulher]. Deus faz uma promessa para Adão: eu vou fazer alguém para ser sua auxiliar. Aqui você já começa a entender a missão de uma mulher. Ela nasceu para auxiliar o homem”, declarou, na mesma transmissão que foi ao ar em 8 de março.

Ministério Público de São Paulo e a Comunidade Canção Nova

O vereador Adauri também falou contra o que, segundo ele, seria uma tentativa de órgãos públicos de neutralizar a abordagem religiosa promovida pela Comunidade Canção Nova, uma comunidade católica mantida pela Fundação João Paulo II, que possui canal em rede aberta de televisão.

“Manifesto repúdio com relação a alguns órgãos do Ministério Público, que estão tentando fazer com que a rede de televisão católica Canção Nova se torne um estado laico, que não se professe a fé católica dentro da Canção Nova”, disse. “A Canção Nova sempre foi uma rede que nunca dependeu de dinheiro público, e está sofrendo, também, com isso”, completou.

O caso a que Adauri se refere é um pedido de afastamento, por parte do Ministério Público de São Paulo, de seis integrantes do Conselho Deliberativo da Fundação João Paulo II que também estão ligados à Comunidade Canção Nova. Segundo o MP-SP, havia conflito de interesses e uma “permissividade patrimonial e financeira da Fundação João Paulo II para a Comunidade Canção Nova”, que poderia desvirtuar a função social da fundação. Os pedidos foram indeferidos parcialmente pela Justiça.

A situação causou reações de grupos católicos, que acusaram o MP-SP de querer “laicizar” e retirar da rede Canção Nova seu caráter religioso.

No entanto, a Promotoria negou as acusações de ataque religioso e disse reconhecer “a indissociável comunhão do povo paulista com a fé católica”, e afirmou que a ação “não aborda aspectos relacionados à fé ou ao exemplar trabalho benemérito realizado pela instituição religiosa em favor da população”.

Leitura da Bíblia nas sessões ordinárias de Engenheiro Coelho

O vereador aproveitou para resgatar uma proibição, pela Justiça, de que a Bíblia fosse lida antes das sessões ordinárias na Câmara. “Onde nós vamos parar se nós deixarmos e ficarmos calados? Daqui a pouco vão lá na Igreja Adventista e falam que não pode professar a religião adventista. Então, nós temos que protestar para que nossa voz possa chegar lá nos poderes maiores, para que possa deixar com que cada um professe sua fé conforme seu costume”, disse.

Em maio de 2023, um entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que a leitura da Bíblia Sagrada nas sessões ordinárias da Câmara Municipal de Engenheiro Coelho era inconstitucional e violava princípios da laicidade estatal, isonomia e interesse público.

Como resultado, a decisão, movida pela Procuradoria-Geral de Justiça contra o Poder Legislativo Municipal de Engenheiro Coelho, anulou artigo de uma lei da cidade que previa a leitura de versículos bíblicos antes do início das sessões na Câmara. No TJSP, a decisão foi votada por unanimidade. A Procuradoria apontou violação do princípio da laicidade estatal, “da qual deriva o dever subjetivo público de neutralidade governamental”.

Em sua decisão, a desembargadora Marcia Dalla Déa Barone, relatora da matéria, concordou com os argumentos e pontuou que o entendimento de que a violação, sustentada no artigo 5°, inciso VI da Constituição Federal, que fixa a inviolabilidade da liberdade religiosa, afronta o artigo 19°, inciso I, que determina vedado “à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.”

Veja a fala do vereador durante a sessão ordinária desta segunda-feira (07):


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