Criação de Parque Naturalizado resgata senso de comunidade em Holambra
Comitê da “Praça da Amizade” reuniu sugestões de moradores e apostou na construção de um espaço de convivência como chance para integração da população
Foto: Rafael Britto
Felipe Pessoa
“Imagine um lugar onde as plantas convidam a explorar, troncos e pedras se transformam em obstáculos divertidos e o som dos pássaros embala a imaginação” — essa é a imagem que evoca o empreendedor ecosociocultural Rafael Britto, 39, um dos integrantes do Comitê da Praça da Amizade, de Holambra, ao definir a ideia de um Parque Naturalizado.
No próximo sábado (29), um grupo de moradores da cidade vai se unir, em um mutirão independente, para construir um parque como este na Praça da amizade, que fica na Rua Eltink, número 74, bairro Imigrantes. A ação acontece das 7h30 até 12h30.
Com sete integrantes, o Comitê da Praça da Amizade convida todos a participar do mutirão e, para quem puder, levar materiais como troncos, tocos, cordas, pedras grandes, além de ferramentas como enxadas e pás, para ajudar na construção do parque.
Foto: Rafael Britto
A ideia de espaços com este apelo não é uma exclusividade de Holambra. Esses locais de convivência, geralmente planejados para crianças, vêm ganhando espaço nos estudos sobre desenvolvimento infantil como uma alternativa à vida urbana, prometendo propiciar interação social e contato com elementos da natureza.
Segundo o Instituto Semeia, no contexto brasileiro, os parques naturalizados fazem uma ponte com práticas infantis profundamente nacionais. “No Brasil, esse modelo de parque envolve a inclusão da comunidade no planejamento dessas áreas e procura fazer um resgate da cultura da infância brasileira, que sempre esteve ligada à natureza, sob influência dos povos indígenas e de matrizes africanas”, diz um artigo do Instituto.
❝Quando construímos algo juntos, em comunidade, nos sentimos pertencentes e responsáveis pelo cuidado com o espaço. Não só pensamos no exemplo a dar às nossas crianças, que estarão sentindo e vivendo esse clima de união, mas também possibilitamos conhecer o outro, dar espaço para o dom de cada um.❞
Ainda segundo o texto, os espaços naturalizados aproveitam a topografia e a vegetação dos locais para criar ambientes interativos e são uma alternativa para famílias que não podem pagar pelo acesso aos parques privados, além de promover a ampliação de áreas verdes em centros urbanos.
Rafael Britto é um dos organizadores do mutirão, e explica que o Comitê se reúne semanalmente para planejar melhorias para a comunidade. “Escolhemos um parque naturalizado pois ele combina com a praça, que fica em uma área de natureza, em uma área de preservação permanente. (O ato de) Usar elementos naturais vai na direção ecológica que o espaço e o mundo pedem”, explica Rafael.
Maiara, 42, que é professora e se descreve como “apaixonada por artes e natureza”, afirma ter percebido que alguns espaços de convivência infantil da cidade não atendiam bem às necessidades da população. “Vários parquinhos, não somente no bairro Imigrantes, mas em várias partes de Holambra, ficam expostos ao sol, o que impossibilita muitas vezes as crianças de frequentarem”, exemplifica.
Ela explica também que, após sugestões da comunidade, o Comitê deu início a um processo de pesquisa para entender de que maneira o grupo poderia proceder com a empreitada. “Além de pesquisas virtuais, (houveram) conversas com uma profissional da área de arquitetura e urbanismo (Thais Teles Pimenta), que nos deu várias dicas. Além disso, muitas respostas vieram das próprias crianças. Elas nos indicaram onde melhor fazer e o que fazer, brincando no próprio espaço”, diz.
Rafael completa dizendo que o grupo apresentou às crianças algumas referencias de possibilidades “ouvimos elas sobre o que achavam de cada uma e, em um mutirão, que fizemos para preparar o espaço, elas foram dando ideias e sinalizando onde poderia ser cada equipamento, assim como outras ideias”.
Maiara detalha que a ação deste sábado contará com um fluxo de trabalho organizado e que “Sim, há um cronograma. Somos em 7 representantes e nos dividimos com responsabilidades e frentes de trabalho. Cada qual é responsável por um brinquedo que será construído na praça no dia 29. Além disso, também nos dividimos para organizar empréstimos das ferramentas e organizar a mesa de alimentação”, explica.
Segundo Maiara, os trabalhos irão desde roçar a praça, podar plantas e nivelar partes do terreno colocando terra, até construir os brinquedos.
“A ideia é concentrar energia e cada um chegar quando puder!”, declara Rafael, que explica também que, para cada brinquedo instalado, existe um cronograma periódico de manutenção.
O empreendedor detalha que a concordância com a ideia do parque entre os integrantes do Comitê foi instantânea, mas tanto ele quanto Maiara afirmam um dos principais desafios foi conseguir materiais e participantes para o trabalho. Maiara percorreu diversos comércios do Bairro Imigrantes, para verificar a disponibilidade dos materiais, enquanto Rafael investia na divulgação da empreitada, convidando grupos da cidade, como os Escoteiros, os Amigos da Cachoeira e os Amigos do Bairro.
Foto: Rafael Britto
Maiara explica que a ação, em nível mais profundo, pretende causar um efeito de integração na comunidade. “Quando construímos algo juntos, em comunidade, nos sentimos pertencentes e responsáveis pelo cuidado com o espaço. Não só pensamos no exemplo a dar às nossas crianças, que estarão sentindo e vivendo esse clima de união, mas também possibilitamos conhecer o outro, dar espaço para o dom de cada um”, declara.
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