“Além de pai, ele era o nosso melhor amigo”, afirmam filhos de homem morto em acidente
Lucas e Lívia pedem por justiça para que a tragédia que matou o pai Gilberto e a amiga Letícia, não fique impune. Eles buscam pelo proprietário dos cavalos que estavam soltos na pista
Wagner Luan
“Chegar na empresa, subir as escadas e não ver mais ele vai ser muito difícil. Mais do que nosso pai, ele era nosso melhor amigo, um cara que você nunca via triste, estava sempre alegre, e é isso que eu vou guardar dele: o sorriso.” Foi assim que os filhos descreveram Gilberto Carlos dos Santos, de 50 anos, que, ao lado da amiga Letícia Lopes, de 30, perdeu a vida em um grave acidente após o veículo em que estavam — junto com um jovem sobrevivente — colidir com cavalos soltos na Rodovia Professor Zeferino Vaz (SP-332).
Lucas Santos, de 22 anos, e a irmã Lívia Santos, de 17, ao lado da mãe, Maria das Graças, conversaram com a equipe do Portal ON para expressar a dor da perda do pai. Eles cobraram justiça e pediram que o dono dos cavalos envolvidos no acidente apareça e se manifeste. “Pelo menos para tentar explicar o que aconteceu, se os animais se soltaram, fugiram, alguma coisa… mas nem isso, até agora, ele fez.”
Gilberto com o neto Abel, seu xodó (Foto: arquivo pessoal)
Quem era Gilberto
Natural de Presidente Epitácio, Gilberto mudou-se para Artur Nogueira em 1994, depois de viver por um tempo no bairro do Fundão, em Holambra. Foi em Artur Nogueira, a “Cidade Berço da Amizade”, que ele construiu sua vida e família. Casado com Maria das Neves, teve dois filhos e, há dois meses, ganhou seu “presente de Deus”: o netinho Abel, seu xodó.
A família morava no bairro Vista Alegre. Mesmo após a separação, todos continuaram vivendo em harmonia no mesmo terreno, onde há três casas: uma para Gilberto, outra para a ex-esposa e a terceira, onde vivem Lucas, sua esposa e o filho.
Conhecido como “Gil”, ele trabalhava como operador de máquinas na empresa Van Der Hoeven, ao lado do filho, onde era muito querido pelos colegas. “Todo mundo queria vir almoçar com a gente, porque ele era muito brincalhão, gostava de colocar apelidos nos outros, era muito alegre”, relembra Lucas, emocionado. Ele também contou sobre o último almoço com o pai na empresa: “Teve um almoço de Dia do Trabalho e, nesse dia, sentamos só eu e ele na mesa. Ficamos ali, juntos, conversando e brincando.”
Gilberto ao lado dos filhos Lucas e Lívia (Arquivo pessoal)
O dia da tragédia
Lucas também recorda o último contato com o pai, na noite de sexta-feira, poucas horas antes da tragédia. “Ele foi em casa, todo arrumado, perfumado, porque ele era muito vaidoso. Pegou meu filho no colo, beijou ele e disse que ia sair. Se despediu… para nunca mais voltar.”
Na manhã seguinte, veio a trágica notícia. “Eram por volta das 6h. Uma amiga que treinava com ele chegou com outro rapaz, chamando por ele. Achei estranho, saí, e o rapaz disse que eu precisava ir à delegacia, pois meu pai havia sofrido um acidente. Quando eu estava tirando o carro da garagem, ele me chamou de novo e disse: ‘Relaxa, fica calmo… seu pai faleceu’. Aí eu não vi mais nada, o mundo escureceu. Só me lembro de ter mandado um áudio no grupo da família, mas nem sei o que falei, estava em choque.”
Para Lívia, a partida repentina do pai deixou um enorme vazio. “Pensa num pai maravilhoso, um excelente pai, um herói… sempre estava com a gente. A frase dele era ‘viva intensamente’, e era isso que ele estava fazendo: vivendo.”
Apoio e amizade com Letícia
A filha contou ainda que, após perder a mãe, Gilberto entrou em uma profunda depressão e foi graças à amizade e ao apoio de Letícia — que ele considerava sua melhor amiga — que conseguiu se reerguer. “Depois do falecimento da nossa avó, ele estava muito para baixo, e foi a Letícia que levantou ele. Ele estava voltando a ser feliz, e ela o ajudava muito.”
Gilberto ao lado de Letícia, uma amizade de anos
“Os dois eram melhores amigos. Sempre que tinha algo em casa, ele perguntava se podia trazer ela. Eles se divertiam juntos. Ele a ajudava na academia. Era uma amizade verdadeira. Tão verdadeira que os dois acabaram morrendo juntos.”
Lucas também rebateu críticas que surgiram nas redes sociais em relação ao motorista do carro. “ O Caio não teve culpa de nada. Tem muita gente julgando, mas ele não colocou uma gota de álcool na boca para levar os dois para casa,
A dor da perda
“Continuar vai ser muito difícil. Além de pai, ele era meu melhor amigo. Vivia comigo para tudo, trabalhava comigo. Chegar na empresa e ver o lugar onde ele trabalhava vai ser doloroso demais. Meu pai era sensacional. Que pai eu perdi! Amigo de tudo, parceiro de time… meu pai era palmeirense fanático, um trabalhador incansável. Não perdia um dia de serviço. Se precisasse trabalhar no dia seguinte, ele nem saía de casa. Inclusive, ele só saiu naquela noite porque decidimos de última hora não trabalhar no sábado. A Letícia o chamou para sair, ele foi dar uma volta… e não voltou mais.”
Lívia guarda a imagem mais feliz do pai. “Vou lembrar sempre do sorriso dele. Meu pai era muito alegre, só trazia alegria para a gente. Essa imagem vai ficar comigo.”
Pedido de justiça
Para os filhos, o maior desejo agora é justiça — e que o responsável pelos animais se manifeste. “Só queremos justiça. Vi gente culpando o Caio [o motorista], mas ele não teve culpa nenhuma. A culpa é do dono dos cavalos, que nem sequer apareceu para se manifestar. Se ele tivesse vindo falar o que aconteceu, a gente até poderia perdoar, mas nem isso ele fez.”
“Queremos que ele venha a público e diga o que pode ter acontecido, para que outras famílias não passem pela mesma dor que estamos passando. Só queremos justiça e evitar outras tragédias.”
Maria das Graças, a mãe dos filhos de Gilberto, afirma que o legado dele ficará para sempre. “O sorriso e o cuidado que ele tinha com os filhos… ele vivia para eles. Eu vou continuar cuidando deles aqui, e tenho certeza que, de onde ele estiver, vai estar me ajudando a cuidar”, diz ela emocionada.
O caso é investigado pela Polícia Civil de Artur Nogueira e até o momento da publicação desta reportagem, o dono dos cavalos envolvidos na tragédia ainda não tinha se apresentado.
………………………………………………………….
Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal ON
É expressamente proibido cópia, reprodução parcial, reprografia, fotocópia ou qualquer forma de extração de informações do site Portal ON sem prévia autorização por escrito do Portal ON, mesmo citando a fonte. Cabível de processo jurídico por cópia e uso indevido.
Comentários
Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.