09/07/2012

ARTUR NOGUEIRA: Última fronteira da Revolução de 1932

No município existem trincheiras e munições que foram usadas no confronto

Quézia Amorim

No último dia 9 de julho, o Estado de São Paulo comemora o aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, podendo ser considerada a data cívica mais importante para o Estado.

A Revolução ocorreu no período de julho a outubro de 1932 e foi o maior movimento armado do país no século XX. O evento envolvia a ruptura de alternância de poder entre os estados de Minas Gerais e São Paulo e teve como objetivo derrubar o Governo Provisório de Getúlio Vargas, além da promulgação de uma nova constituição para o país, a chamada República Velha ou república do Café com Leite.

Segundo relatos históricos, aproximadamente 135 mil homens aderiram à luta. O número de mortos passa de 900. Várias cidades do interior de São Paulo sofreram danos devido aos combates, mas nem todos foram registrados.

Para realizar o combate contra as tropas mineiras os soldados paulistas vinham de cidades próximas, como Mogi Mirim e Campinas.

Relatos de nogueirenses sobre o caso

A revolta deixou marcas evidentes e algumas delas foram encontradas em Artur Nogueira, tais como uma bala de fuzil, trincheiras localizadas em um sítio e um pente de munição, dentre outros objetos que não foram encontrados.

Bala de fuzil

A bala foi encontrada pelo bisavô do vereador Leandro de Queiroz (Gugu), Rodolfo Rossetti, que presenciou a revolução. “Eu vivia na casa do meu avô que contava essas histórias. Ele achou a bala de festim assim, amassada, e disse que naquela época o chumbo era raro. Existia uma pessoa que atirava de um lado e outro soldado ia lá onde estava a bala e recuperava o material. Eles faziam isso para dizer que tinham munição, então os soldados usavam e reaproveitavam abrindo a bala para recarregar com pólvora. Para essa bala ter sido encontrada, o soldado tinha que ter saído correndo quando deixou cair, porque ele não abandonaria a munição”, afirma Queiroz, que ainda conta que a avó dele, Maria Rossetti Oliveira, chegou a visualizar uma batalha aérea no município. “Ela disse que viu um avião vindo de Minas Gerais, que jogou uma bomba onde hoje é o Jardim Leonor. O avião sobrevoou a cidade até chegar ao centro, quando outros dois aviões, aparentemente vindos de Campinas, se aproximaram para realizar o combate, foi quando o primeiro avião foi abatido e caiu quando tentou voltar sobrevoando no sentido Mogi Mirim”, relembra Queiroz em memória da avó.

Trincheira

Em um sítio próximo ao antigo lixão de Artur Nogueira existe uma trincheira que foi usada pelos soldados paulistas, que na batalha atiravam no sentido de Mogi Mirim, onde se encontravam as tropas mineiras. Na época essa área perto do lixão pertencia ao município de Mogi Mirim.

No sítio, moravam os avós de Ivone Giroldi Tetzner, que atualmente mora no local. Ela conta que na época da revolução, seus avós presenciaram a batalha e os soldados paulistas. “A trincheira ficava, no máximo, há cem metros da casa deles. Os soldados sempre dormiam e comiam no paiol do meu avô. Meus avós me contavam que os soldados paulistas entravam na casa deles para comer e pegar o que viam pela frente. Lembro também que meu avô me contou que os soldados paulistas batalhavam de um lado enquanto os mineiros atiravam do outro lado. Os meus pais me contaram que esse tempo era temeroso para todos que moravam no município”, conta Tetzner.

Relato de Irene Arrivabene Berni

Irene Arrivabene Berni, que tinha 12 anos de idade na época, conta que a mãe dela tinha uma padaria localizada na Rua 1º de Janeiro, no centro de Artur Nogueira. Segundo ela, no lugar onde ficava a padaria passaria o tiroteio da Revolução. “Os soldados a gente via, estavam espalhados pela cidade, eles se escondiam dos mineiros. No período da revolta, não tinham o que comer nem onde trabalhar, o tempo estava difícil. Minha mãe chegou a alimentar um paulista que dizia que estava há três dias sem comer”, conta Irene , que se mudou juntamente com a família para um sítio após o boato de um tiroteio que se espalhou pela cidade. “Soubemos que o tiroteio ia passar em frente à nossa padaria, foi quando minha mãe largou tudo para morar num sítio. Naquele período as minhas irmãs ficavam escondidas num quarto toda vez que algum homem desconhecido aparecia. As mulheres precisavam se esconder, pois se os soldados as achassem se aproveitavam delas”, afirma Irene Arrivabene Berni.

Relato de Ricardo Berni

Ricardo Berni, cunhado de Irene, que na época estava na casa dos 20 anos de idade, relata o pouco que lembra. Hoje aos 99 anos, afirma que os mineiros chegaram ao município. “Artur Nogueira era uma vila, não chegava a ter mil pessoas aqui. Lembro que os mineiros chegaram a Artur Nogueira e quando eles viam algum paulista, eles zombavam, e os paulistas tinham medo. Eles não gostavam dos paulistas, roubavam tudo, ninguém podia ter nada. Uma vez quando estava próximo a uma capela, cheguei a ouvir o estrondo dos tiroteios que ecoavam na mata”, afirma Berni.


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