ENTREVISTA: Após sofrer AVC, Aquino fala sobre estado de saúde, obras e projetos
“Nascer foi um ato espontâneo e o morrer faz parte deste mesmo processo. Alguns dias senti que a vida é muito frágil, delicada” (Aquino) ……………………………….. Alex Bússulo Na segunda-feira retrasada, dia 13 de maio, o artista plástico e músico Tomás de Aquino sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Tudo aconteceu de maneira muito rápida. O […]
“Nascer foi um ato espontâneo e o morrer faz parte deste mesmo processo. Alguns dias senti que a vida é muito frágil, delicada” (Aquino)
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Alex Bússulo
Na segunda-feira retrasada, dia 13 de maio, o artista plástico e músico Tomás de Aquino sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Tudo aconteceu de maneira muito rápida. O nogueirense foi levado às pressas para o hospital onde ficou internado por quatro dias. Durante a tarde de sexta-feira (24), Aquino recebeu nossa equipe em sua casa. Com dificuldades em pronunciar palavras, o artista não perdeu o jeito sorridente e atencioso. De maneira tranquila e pausada ele relembrou o ocorrido.
“Estava eu em plena atividade mental, quando por volta das três horas da tarde comecei a ficar estranho. Não senti nenhuma dor, só uma sensação de não conseguir falar. Tentei voltar ao normal e fui deitar um pouco, mas o pesadelo tomou conta da minha cabeça e não estava conseguindo falar coisa com coisa. Depois de certo tempo, acho que uma hora mais ou menos, não tive como esconder de minha esposa o problema. Imediatamente fui socorrido. Tive um AVC isquêmico agudo. Fui prontamente atendido no Hospital Bom Samaritano, onde o Dr. Zildomar Deucher me examinou e já indicou o tratamento adequado para o caso. Foi tudo muito rápido, tive a sorte de ser tratado sem perda de tempo”, afirma.
Pergunto se ele está bem? Se está sentindo-se melhor. “Depois de dez dias, estou me sentindo como uma pessoa nova, fiquei internado quatro dias tomando medicamento específico e agora tudo vai ser mais brando e já estou reaprendendo a falar, um pouco atrapalhado, mas voltando ao normal. Estou me sentindo cheio de gratidão pelos meus familiares e por todas as pessoas que acompanharam o meu caso”.
Segundo Aquino, o AVC deixou poucas marcas. “Além de uma consequência da fala e de expressão, estou me sentindo normal, consigo pensar, mas não estou conseguindo coordenar os mecanismos da fala, de uma maneira lógica e clara. Estou fazendo exercícios de fonética e já estou conseguindo alguns progressos”, afirma.
É difícil alguém que não conhece e admira este nogueirense de coração. Antes de sofrer o AVC, Aquino cantava, tocava vários instrumentos, pintava vários quadros e fazia retratos inigualáveis. Também é o responsável pelas caricaturas publicadas semanalmente no Portal Nogueirense. Em anos de parceria, já fez a caricatura de mais de cem entrevistados. Pergunto a ele se o ocorrido vai lhe prejudicar nos trabalhos. A resposta acompanhado por um sorrido me deixa aliviado: “Espero que não, devo acreditar que não. Não sabemos como será o futuro. Vou procurar fazer o meu melhor sem, no entanto, fazer coisas que fogem de minha conta. Tudo dentro da normalidade, tudo natural”. Sobre as caricaturas, ele garante: “É uma diversão fazer as caricaturas, coisa prazerosa, logo mais estarei fazendo novamente”.
Aquino conheceu Artur Nogueira por casualidade do destino. Em 1998, ele trabalhava em uma firma em São Paulo e foi convidado para ser chefe de uma pequena metalúrgica aqui no município ‘Berço da Amizade’. Trabalhou pouco tempo e logo montou a ‘Criarte’, uma escola de pintura e desenho. Para surpresa do artista, os alunos proliferaram.
Natural de Jundiaí-SP, Aquino nunca viveu sem estar envolvido com a arte. Quando menor trabalhou em uma firma de litografia e aprendeu a desenhar rótulos de garrafas. Depois veio o quartel e novamente ele se viu envolvido com a amiga ‘arte’, onde desenhava alvos, mapas e ilustrava palestras dos generais. Depois trabalhou em uma multinacional japonesa como desenhista de tecidos. Aprendeu alguns segredos da paciência e da perfeição oriental. Do desenho têxtil passou para o universo da arte mecânica, se formou pela Protec e, quando veio para Artur Nogueira, foi chefiar o departamento de arte-final e acabamento técnico.
Quando era criança já vendia os desenhos que fazia. Desenhava o rosto de Cristo em uma cartolina e saia vendê-los para amigos e desconhecidos. Para Aquino, a arte sempre foi um processo natural da própria existência. Não se limitou apenas na arte da música e na arte plástica, mas também na leitura, no jogo de xadrez, na arte de não precisar assistir televisão, na arte do eterno bom humor. É incrível como ele sempre está sorrindo mesmo depois do AVC.
Pergunto para Aquino se por algum momento ele pensou que poderia morrer. A resposta me surpreende. “Já pensei na morte, estou ciente que nossa vida termina quando acabar. Nascer foi um ato espontâneo e o morrer faz parte deste mesmo processo. Alguns dias senti que a vida é muito frágil, delicada. Estou no auge dos meus sessenta anos, daqui para frente é o futuro que vai ditar as cartas. Gostaria de viver mais de cem anos, mas não sabemos qual será o nosso destino”, conta.
Para ele, a alegria está no sangue e é sempre com muito humor que desenvolve os trabalhos. “Deus foi muito generoso comigo quando me deu o dom da alegria, apesar de sofrer com as injustiças do mundo, principalmente com o sofrimento dos animais, sou uma pessoa extremamente feliz e cada vez mais faço minha parte para aliviar a dor dos que padecem”.
Há alguns anos atrás, o nogueirense deu uma grande lição de vida. Mostrou para todos que nunca é tarde para estudar e buscar qualificação. Na época com 56 anos de idade, cursou faculdade e se formou em Educação Artística no Unasp. “Foi a coisa mais importante que realizei em toda minha vida, o mundo do saber desabrochou na minha visão, aprendi que o conhecimento é infinito e ninguém sabe nada definitivamente, aprendi que existe milhares de escolas e linhas de pensamentos. Talvez por causa de minha maturidade e experiência de vida fui um exímio aluno. Nunca tive tantos mestres de valores incalculáveis”, conta.
No mês passado, Aquino deu um depoimento em uma reportagem especial sobre os benefícios da bicicleta. No vídeo, o nogueirense conta que não troca a bicicleta por nada. Além de ser um ótimo meio de transporte também faz bem para a saúde. Selecionamos um trecho especial da gravação. Confira:
Aquino valoriza cada momento da vida. Diz que em nenhum momento antes, durante ou depois do AVC teve medo da morte: “Não senti medo. Vivo porque faço parte de um processo natural. É egoísmo pensar só na nossa morte, sendo que há milhões de seres que passarão pelo mesmo caminho. Meu pai passou e muitos outros amigos passaram para o lado de lá. Todos eles já cruzaram a linha de chegada. Em nós não será diferente”.
Há algumas semanas, Aquino escreveu um artigo especial para a coluna Opinião. Nela, o artista afirmou que pretendia ser imortalizado pelas obras que produziu durante a vida. Criador do chamado ‘Fractais Aquinianos’, o nogueirense contou como descobriu a técnica. “Desenvolvi muitas técnicas adaptadas ao meu gosto particular, mas em todas, nunca me dava por satisfeito e intuitivamente sabia que ainda estava para encontrar meu caminho natural e único. Entre tentativas e experiências fui percebendo que uma coisa surgia espontaneamente e com fluência, eram fragmentos fortes e fracos que se repetiam como cacos de um mosaico ou como vidros de um vitral. Durante anos e anos, essas formas insistiam em surgir em quase todos meus trabalhos. Levei em conta que aquilo era uma coisa minha, que vinha do meu interior, do meu inconsciente, como uma marca pessoal. Minhas telas ficarão imortalizadas no futuro, com dedicação faço meu trabalho para isso e acredito nisso, daqui muitos séculos para frente o Aquino de Artur Nogueira será lembrado”, escreveu no artigo.
Antes de sofrer o AVC, Aquino estava com a agenda cheia. Estava tendo dias agitados. Brinco com ele ao afirmar que ele estava vivendo em uma correria total. Ele concorda: “É verdade. Tenho uma vida plena e cheia de afazeres, mas não é sobrecarga, faço o que gosto com a maior boa vontade. Tenho vários compromissos, mas todos eles são partes de um todo. Tenho algumas atividades que não sei viver sem elas: toco violão clássico, toco violão popular, dou aulas de Xadrez no Montessori, dou aulas de desenho no Centro Cultural Tom Jobim, faço minhas pinturas dos Fractais Aquinianos, faço minhas caricaturas, pinto meus quadros de retrato a óleo, gosto de ler, adoro a boa música clássica e nossa MPB. Tenho mais atividades, não sei ficar sem fazer nada. Só não assisto televisão por opção”, afirma.
Pergunto também o que vai mudar na vida dele a partir de agora, se pretende diminuir o ritmo. “Pretendo ter uma vida com mais qualidade, fazendo tudo com mais harmonia e mais bem feito, não pretendo diminuir o ritmo, tudo será feito com mais amor e dedicação, sem atropelos desnecessários. Tudo naturalmente. Agora, estou em novo endereço, aqui na minha casa, tenho minha oficina e funciona como atelier. Dentro mais uns dias, atenderei quem precisar dos meus serviços pela Internet, através do e-mail: [email protected]. Vou continuar com toda as minhas obras”, conta.
Antes de nos despedirmos fizemos a entrega de um presente simbólico ao nosso amigo artista. Depois dele realizar tantas caricaturas, nossa equipe decidiu retratá-lo. Pedimos ao nosso publicitário Renan Bússulo para que fizesse uma caricatura de Aquino. Na entrega, ele sorriu e agradeceu: “Ficou muito bonito. Obrigado!”
Fotos e caricatura: Renan Bussulo
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