ENTREVISTA: Organizador fala sobre 1ª Semana do Orgulho LGBT em Artur
Raoni Zopolato
“Muita gente está achando que será uma baderna, uma coisa bagunçada. A nossa proposta vai totalmente ao contrário disso” (Raoni Zopolato)
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Alex Bússulo
Desde o dia 10 de maio, quando tornou público a realização da 1ª Semana do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT) de Artur Nogueira, o professor de Inglês, Raoni Padilha Zopolato, de 29 anos de idade, se transformou no centro de uma das maiores polêmicas que o município já presenciou: a cidade ‘Berço da Amizade’ estaria pronta para sediar um evento deste gênero?
Várias são as opiniões e comentários. A única coisa certa até o momento é a realização do evento, que acontece na semana que vem na Escola Modelo e na Praça do Coreto.
Ao todo serão quatro dias de atividades, com programação variada que vai de palestras a shows de Drag Queens.
Raoni é uma daquelas pessoas que pensam muito, mas são de poucas palavras. Nascido na cidade de Tucuruí, Pará, veio para Artur Nogueira no ano de 1992, devido o trabalho do pai.
Já morou em Londres e após seis anos, retorna a cidade e se prepara para o evento que marcará o calendário cultural do município.
Durante a entrevista, de aproximadamente duas horas, Raoni fala sobre a programação do evento, discriminação e homossexualidade. Para início da conversa, faço uma pergunta polêmica, que está na boca de muitos nogueirenses. Confira:
Corre o risco do evento virar bagunça? Não. Muita gente está achando que será uma baderna, uma coisa bagunçada. A nossa proposta vai totalmente ao contrário disso. Não gostamos e não vamos fazer arruaça. Não é porque eu sou gay que eu sou um vândalo. Sou uma pessoa normal, que tem sentimentos, que tem um pai em casa, que tem amigos e relacionamentos. A proposta do nosso evento é apenas uma: conscientizar e informar a população sobre assuntos relacionados à homossexualidade.
Tudo bem, mas no domingo (22) está programada uma ‘Parada Gay’ em frente à Praça do Coreto. Essa atividade não vai transformar a avenida em um “carnaval” fora de época? É como eu já disse, não é esse o nosso objetivo. Não é isso que a organização está programando. De fato, no domingo teremos uma concentração no centro de Artur Nogueira. Vamos trazer shows, mas será um dia em que a nossa militância vai falar. Queremos abordar e divulgar a Lei Estadual nº 10.948/2001, que diz que qualquer tipo de discriminação ou preconceito é considerado crime. Para este dia, convidei os quatro candidatos a prefeito de Artur Nogueira para participarem de um debate.
E você acha que eles irão? Todos foram convidados. Até o momento não recebi a confirmação de ninguém. Caso eles não apareçam estarão declarando que não são a favor da causa e, portanto, estarão discriminando o evento. Com isso, consequentemente, também estarão perdendo o nosso público eleitor. Queremos fazer duas perguntas para cada um deles.
Posso saber quais são essas perguntas? Não queremos divulgar, pois estragaria a proposta do debate, mas posso adiantar que serão perguntas relacionadas à importância e a opinião dos políticos referentes ao evento.
Pelo o que pude entender da proposta, esse primeiro encontro também pretende atrair o público heterossexual? Exatamente. Nós não estamos pedindo aceitação. Isso vai de cada um. Queremos e exigimos respeito. A programação é voltada para a reflexão sobre o preconceito e discriminação. Queremos que os heterossexuais nos respeitem, assim como os respeitamos. No sábado (21), teremos uma programação mais diversificada, com apresentações de danças, DJs e duplas sertanejas. Tudo com a finalidade de atrair todos os públicos.
Como você vê e analisa as críticas e comentários a respeito do evento? Não levei nada para o lado pessoal, houve comentários ofensivos, mas os considero vindo de pessoas ignorantes, que desconhecem a causa e principalmente, a Lei. A comunidade evangélica está nos apedrejando como se não conhecêssemos a Bíblia. Nossa comissão é formada por pessoas religiosas que frequentam várias igrejas em Artur Nogueira. Não é justo dizer que estamos contra Deus pelo o que somos. Acredito que estaríamos indo contra a vontade Dele se mentíssemos para nós mesmos.
Você acredita em Deus? Sim.
O que Ele representa para você? Deus é a energia máxima do Universo, que está em todos os lugares. Acredito na proteção Divina. Minha fé é tão grande que se não fosse por Ele, talvez o nosso evento não se tornasse uma realidade. Sinto a mão de Deus em minha vida.
Você acha que suas ações vão contra a Bíblia? Não. Porque se fosse assim estaríamos sendo apedrejados nas ruas. Já li a Bíblia, cresci dentro da igreja, e até hoje tudo o que vi foram meras interpretações humanas.
Quantos anos você tinha quando percebeu que poderia ser gay? Desde criança eu sentia interesse por homem. Mas por causa da sociedade e pela própria igreja, eu me neguei. Não queria. Tinha medo do que poderia acontecer, do que as pessoas iriam pensar e dizer. É difícil falar sobre esse assunto porque foi algo que me marcou muito. Passei por terapia, fiz até regressão.
O evento também vai abordar a questão da prostituição infantil. Como é essa realidade em Artur Nogueira? É do conhecimento de grande parte dos políticos e parcela da população a questão da prostituição infantil em nossa cidade. A faixa etária das crianças e adolescentes que se prostituem vai desde os 12 aos 16 anos, sendo na sua maioria crianças vindas de famílias de baixa renda, crianças viciadas em algum tipo de droga, entre outros motivos. O nosso intuito é tentar mostrar para essas crianças que existem outras formas de se ganhar dinheiro e vencer na vida. E também alertar a população que isso se trata de abuso infantil, pedofilia, e crime.
Você tem apoio de sua família? Tenho sim. Sou filho de uma família com cinco irmãos. Eles sempre me entenderam, respeitaram e aceitaram. Graças a eles, hoje eu tenho a estrutura psicológica que tenho. Nunca tive opção sexual. Acho esse negócio de opção é a coisa mais absurda que existe. Pelo menos para mim nunca foi uma questão de opção. Não foi aquela coisa de escolher homem ou mulher. Sempre soube o que eu era.
O que te fez assumir? Foi um processo muito difícil. Demorou cerca de três anos para eu assumir que era gay. Quando eu me aceitei passei a levar uma vida dupla. Para as pessoas a minha volta eu era heterossexual, mas lá no fundo eu já me sentia e vivia como um homossexual. Nessa época, passei por muitos problemas psicológicos. Tive síndrome do pânico, bulimia e sofri bullying. Busquei na bebida um consolo, mas logo percebi que esse não era o caminho correto.
Quantos anos você tinha quando assumiu? 24 anos. Foi com a minha psicóloga que eu me abri pela primeira vez. Ela disse que desde o primeiro momento que havia me visto já tinha em mente que eu era gay. A partir disso ela começou a trabalhar comigo a questão de como eu deveria lidar com a questão. A psicóloga me orientou em uma coisa que carrego comigo até os dias de hoje. Ela aconselhou a eu responder o que eu quisesse quando alguém me perguntasse se eu era gay, mas para aquelas pessoas que eram importantes para mim, era para eu responder e dizer que a minha parte estava feita, que era contar, que a única coisa que eu deveria pedir era o respeito, independentemente de aceitação.
Na sexta-feira (20), será apresentada a peça teatral ‘Depoimentos’ no Anfiteatro da Escola Modelo. A história foi escrita por você mesmo. De onde veio a inspiração? A trama narra a vida de dois jovens do mesmo sexo que se apaixonam, sendo um deles gay assumido, que pagou um preço um tanto quanto alto pela revelação, e o outro perdido na transição da auto aceitação, naquela do ‘sou mais não quero’. É um misto de histórias de vida de vários gays, resumidos em seis personagens. O objetivo do teatro é o mesmo de todas as outras atividades que serão realizadas no evento. A inspiração veio da minha própria história e da vida de amigos próximos.
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PROGRAMAÇÃO:
Abertura (Entrada 1 kg de alimento não perecível)
QUINTA (19) a partir das 19h – Anfiteatro Escola Modelo, Rua XV de Novembro.
Programação:
Apresentação pianista Billie Tomasini
Anfitriã da Noite Wanessa Pamplona
Bate Papo sobre educação sexual
Palestrantes: Integrantes da ONG E- Jovem, escola LGBT parte do programa Cultura viva do Governo Federal.
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2º Dia (Entrada 1 kg de alimento não perecível)
SEXTA (20) a partir das 20h – Anfiteatro Escola Modelo, Rua XV de Novembro.
Programação:
Peça Teatral: Depoimentos
Romance gay com depoimentos verídicos de como alguns gays enfrentaram sua aceitação, a aceitação de suas famílias, e como eles se veem no mundo hoje.
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3º Dia
SÁBADO (21) a partir das 19h – Praça do Coreto
Show: Dupla Sertaneja Jean e André
Show: Cissa Martins
Show: Bety Biju
Apresentação de Dança: Grupos independentes
DJ Tâmara Verissimo
DJ Gustavo Conde
Dj Tiago Zopolato
Dj Henry Posca
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Encerramento
DOMINGO (22) a partir das 16h – Praça do Coreto
Show: Lohren Beauty
Show: Stefani Angelina (Gaga Cover)
Show : Gay Direction
Show: Julia Sebert (Britney Spears Cover)
Show: Ket Butterfly
Talk Show com integrantes da ONG E-Jovem,
Entrevista com Militantes das causas LGBT
Shows de Drags da Região
DJ Tâmara Verissimo
Dj Flávio Fênix (Residente Base Campinas)
Dj Rick Moraes (Residente da Apple)
Apresentação (Stand up e Host do Evento) Ket Butterfly (Drag Queen Nogueirense)
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