ENTREVISTA: Deolinda Marco fala sobre o papel das mães
“A mulher que é verdadeiramente mãe vive as dores do filho” (Deolinda Marco) …………………………… Alex Bússulo Existe um velho ditado que diz que a verdadeira mãe é aquela que cuida, aquela que dá amor, carinho e educação. Em Artur Nogueira, uma senhora de 68 anos de idade dá o maior exemplo de solidariedade e afeto. […]
“A mulher que é verdadeiramente mãe vive as dores do filho” (Deolinda Marco)
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Alex Bússulo
Existe um velho ditado que diz que a verdadeira mãe é aquela que cuida, aquela que dá amor, carinho e educação. Em Artur Nogueira, uma senhora de 68 anos de idade dá o maior exemplo de solidariedade e afeto.
Desde 1990, Deolinda Marchiore Marco está à frente da Casa do Caminho, uma importante instituição que atende mais de 200 crianças e adultos em Artur Nogueira. Com sede no bairro Bela Vista, o local oferece várias atividades, cursos e oficinas gratuitamente a população.
Artesanato, Teatro, Informática, Karatê, Música, Balé, Corte e Costura são alguns dos cursos oferecidos. No entanto, o maior aprendizado de quem passa pelo local é o amor e exemplo transmitidos pela senhora.
Deolinda nasceu em uma pequena vila chamada Lusitânia, hoje distrito de Jaboticabal-SP. Formou-se no magistério e começou a dar aulas. Devido ao trabalho do marido em um banco, se mudou para Artur Nogueira e nunca mais saiu do município ‘Berço da Amizade’. Mãe de cinco filhos, Deolinda se dedica todos os dias em ajudar ao próximo.
Durante a semana, mais de duzentos adolescentes e crianças passam pela Casa do Caminho. A senhora se considera um pouco mãe desta turma? Não tem como não me considerar. Essas crianças e jovens que frequentam a instituição acabam criando um laço muito forte comigo. A Casa do Caminho faz parte da minha vida. Tenho um amor muito grande por este lugar e pelas pessoas que aqui frequentam.
A senhora tem cinco filhos e mais de duzentos do ‘coração’. O que significa ser mãe? Ser mãe é muito bom, mas também é muito difícil. A mulher que é verdadeiramente mãe vive as dores do filho. E algumas vezes os filhos passam por situações difíceis. Muitos costumam dizer que ser mãe é viver no paraíso, mas isso é pura conversa fiada. Só vive no paraíso quem não liga para nada. Agora, quando você convive com um filho e ele faz parte da sua vida você vai compartilhar das alegrias e tristezas da vida dele. Ser mãe é ser uma vencedora. É vencer etapas. É viver cada etapa dos filhos e cada etapa vencida é motivo de alegria e comemoração. E quando eles perdem nós, como mães, também perdemos.
Muitos pais tentam compensar a ausência dentro do lar para os filhos com bens materiais. O que acha desta metodologia? Esse é um dos maiores problemas que a sociedade enfrenta nos dias atuais. O rico sempre está querendo ganhar mais e acha que dando coisas materiais aos filhos eles vão ser felizes. É aí que nascem as lacunas entre pai e filho. Os buracos dentro próprio lar. Brinquedos caros não compram o amor de ninguém. As vezes uma criança dá muito mais valor para um carrinho de carretel do que um que foi pago uma fortuna. Mas infelizmente alguns pais demoram para perceber isso.
Então é errado dar presentes caros aos filhos? Eu acho que devemos dar, mas não em excesso. Dar um presente no aniversário, no Natal ou em outra comemoração importante acho que é interessante, mas não de maneira descontrolada, dando tudo o que o filho pede. A família está esquecendo de detalhes importantes.
O que falta nos lares? Faltam exemplos dos próprios pais. Os filhos se espelham no pai e na mãe, copiam as ações boas e más. É comum os pais fazerem festas de aniversário para os filhos e ao invés de celebrarem a nova idade da criança o que costuma rolar é cerveja e outras bebidas alcoólicas. O encontro que era para comemorar o aniversário do filho se transforma em uma roda de amigos dos pais da criança. Fumam e bebem na frente dos filhos. Falam palavrões exageradamente. A mulher está se esquecendo de ser mãe, que é a missão mais importante.
Até algumas décadas atrás, o homem costumava trabalhar e a mulher ficava responsável pelos afazeres domésticos e na educação dos filhos. Hoje vivemos uma realidade bem diferente, onde tanto o pai quanto a mãe precisam trabalhar fora. Como a senhora analisa isso? Não vejo problema em uma mulher lutar e trabalhar para ajudar no sustento da família. Acho isso digno. A questão é quando o trabalho atrapalha a estrutura familiar. Um dos grandes problemas que podemos encontrar dentro da família nos dias de hoje é a falta de diálogo. A maioria dos pais não conseguem mais tempo para conversar com os filhos. Não conseguem mais dedicar alguns minutos para perguntar se as crianças estão bem, como foi o dia ou se estão passando por algum problema. Quando percebem a importância do diálogo já é tarde demais. O tempo é escasso. O pobre tem que trabalhar mais para conseguir sanar as necessidades da família. O rico tem que trabalhar mais para ganhar ainda mais e se garantir financeiramente.
O que poderia ser feito para melhorar esse cenário? Eu acredito que a mulher poderia ter menos horas de trabalho. Sei que isso é difícil, por isso deveríamos aproveitar mais o pouco tempo disponível para o diálogo e as brincadeiras com os filhos. Talvez essa seja a melhor opção. Isso vale tanto para a mãe quanto para o pai. Devemos sempre acreditar e defender que a família é a coisa mais importante que temos nesta vida.
Como surgiu a Casa do Caminho? Antes da década de 90, nosso grupo do Centro Espírita foi convidado pelo então prefeito Ederaldo Rossetti a participar do Arraiá do Pé Queimado, uma tradicional festa que acontecia aqui em Artur Nogueira. O Centro Espirita, assim como outros grupos, aceitou o convite e montou uma barraca de salgados no recinto. Em um dos dias que estávamos lá trabalhando fomos surpreendidos com a presença de uma criança. Uma menina de aproximadamente cinco anos de idade apareceu em nossa barraca usando apenas uma calcinha. Era mês de setembro e fazia muito frio. Ficamos comovidos com a cena e decidimos levá-la até o Centro Espirita. Mais tarde descobriríamos que a menina tinha perdido a mãe e o pai havia acabado de se casar com outra mulher. Com mais três irmãos, a madrasta não cuidava da menina. Levamos ela, demos comida, banho e novas roupas. Depois de alguns dias, outras crianças também apareceram em nosso centro. Precisávamos fazer alguma coisa por elas. Artur Nogueira vivia uma realidade um pouco diferente. Ainda não existia o Conselho Tutelar.
Foi assim que surgiu a instituição? A Casa do Caminho surgiu após uma conversa que tive com uma amiga, Adelaide Word. Juntas compramos um terreno aqui mesmo no Jardim Bela Vista para a construção da instituição. Após algum tempo sugeriram a Adelaide para entrar em contato com o prefeito Ederaldo Rossetti para tentarmos apoio da Prefeitura. Marcamos uma reunião e obtivemos uma grande conquista. O prefeito nos cedeu por um período de cem anos o nosso atual terreno. Eu e a Adelaide vendemos a área que tínhamos comprado e com o dinheiro compramos o material para construirmos parte da instituição. E foi assim, no dia 5 de junho de 1990 que nasceu a Casa do Caminho.
Como era no começo? Antigamente, aqui no Jardim Bela Vista era tudo plantação de laranja. As crianças vinham para cá e faziam várias atividades, como desenhos, artesanatos e brincadeiras. Lembro-me que por muitas vezes tivemos até que fazer as matrículas das crianças nas escolas.
De onde surgiu o nome ‘Casa do Caminho’? É bíblico. Após a partida de Jesus, os apóstolos começaram os ensinamentos. Existia um caminho onde havia uma casa em que os apóstolos acolhiam os rejeitados, os leprosos, doentes. Foi com base nessa passagem que nos inspiramos. Criamos uma instituição para ajudar aqueles que precisam, que estão carentes de uma mão amiga. Fico feliz quando vejo que alguém saiu melhor do que quando entrou aqui.
A senhora é uma mulher feliz? Olha, eu só vou ser feliz quando não houver ninguém morando na rua, nenhuma criança passando necessidade. Uma pessoa que fala que é feliz está sendo egoísta. Como é que alguém consegue ser feliz com tanta desigualdade e coisas erradas em nosso mundo? Existem momentos felizes. Em uma comemoração, vitória, celebramos com alegria, mas ela não é permanente. Enquanto existir guerra, morte, pobreza é impossível sermos verdadeiramente felizes. Temos que ter Deus no coração. Precisamos falar de Deus. Não me refiro as religiões, católica, evangélica, espirita, enfim, me refiro a Deus, o nosso verdadeiro Pai. Precisamos seguir Suas palavras todos os dias.
Como a Casa do Caminho se mantém? Olha, às vezes quando digo isso tem até aqueles que duvidam. Nunca faltou nada aqui dentro. Em mais de 20 anos da instituição só tenho a agradecer a Deus pelas vitórias diárias. Posso fazer uma comparação com o milagre da multiplicação, onde Jesus multiplicou os pães e matou a fome de uma multidão. Acho que quando a gente faz um trabalho com amor e com Deus no coração tudo dá certo.
Em junho, a instituição completará 23 anos. Está sendo preparada alguma programação especial? Estamos preparando sim. Faremos um lindo evento já agendado para o dia 5 de julho no Anfiteatro ‘O Fingidor’ do Cemeb Monteiro Lobato. Nossos próprios alunos farão apresentações de teatro, dança, música, fanfarra, karatê, balé, além de expormos os artesanatos e pinturas. Todos estão convidados para esta comemoração.
Fotos: Gregory Pereira
Caricatura: Tomás de Aquino
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