ENTREVISTA: jornalista Fátima de Oliveira fala sobre vida, profissão e paixões
“Para falar a verdade não pensava em ser radialista, pois ser jornalista já me fazia feliz” (Fátima de Oliveira) ………………………. Alex Bússulo Pioneira em Jornalismo em Artur Nogueira e região, Fátima Aparecida de Oliveira descobriu cedo a paixão pelo mundo da Comunicação. Com seu jeito irreverente e carismático, há 23 anos está à frente do […]
“Para falar a verdade não pensava em ser radialista, pois ser jornalista já me fazia feliz” (Fátima de Oliveira)
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Alex Bússulo
Pioneira em Jornalismo em Artur Nogueira e região, Fátima Aparecida de Oliveira descobriu cedo a paixão pelo mundo da Comunicação. Com seu jeito irreverente e carismático, há 23 anos está à frente do ‘Bom Dia Cabocla’, um programa matinal que está presente diariamente nas manhãs de milhares de pessoas.
Mulher guerreira, que inspira e motiva muitos. Humilde, não recusa um bom bate-papo. Fátima tem história. Como comunicadora ajudou a registrar os fatos mais marcantes do município ‘Berço da Amizade’.
Começou a fazer jornal em uma época em que muitos nem sabia o que era isso. Com a ajuda da família, derretia chumbo para uma máquina linotipo compor as palavras das notícias de Artur Nogueira – que há décadas atrás não passavam de ocorrências de roubo de galinhas ou botijões de gás.
No ano de 2001, Fátima entrou para a Política como vice-prefeita. Mesmo em um cargo de expectativa, a nogueirense batalhou e se dedicou na melhoria do lado social do município.
Há pouco mais de dois anos, ficou viúva do Dr. Henrique Scursoni ‘Neto’, que perdeu a vida após sofrer um infarto durante uma viagem. Alegrias, tristezas, sorrisos e lágrimas – difícil definir esta mulher tão presente em Artur Nogueira. Uma coisa é certa: a paixão pela vida, por Deus e pela profissão a mantém contagiante a cada dia mais.
Como foi que descobriu sua paixão pelo Jornalismo? Tudo começou quando ainda estava no colegial. Era estudante da escola José Amaro Rodrigues e fui convidada para participar de um jornalzinho da escola. Na oportunidade entrevistei o primeiro prefeito da cidade, o senhor Severino Tagliari. Também no mesmo jornal, para a minha surpresa, os professores colocaram na capa uma poesia que fiz para a cidade de Artur Nogueira. Na época achei tudo muito legal e daí para frente me encantei, ou melhor, senti na pele uma paixão por fazer jornal. Depois disso, um turco esteve na cidade e montou um tabloide semanal, chamado Apito, cuja redação era próxima ao ENA Produções Fotográficas. Comecei a passar lá na frente, até que o tal turco me chamou e me convidou para trabalhar no jornal dele. E tinha mais vagas para trabalhar na redação, então convidei minha prima Cleide Boer e meu amigo Celso Simões para fazermos a coluna social. E sabe o que ganhávamos? Uvas Itália! Tão somente uvas Itália. Uma fruta que não éramos acostumados a comer. Era cara, como até hoje não é barata. Mas a gente se realizava muito, até que em um belo dia o turco “sumiu” é só restou saudades daquela época [risos].
E como nasceu ‘A Folha da Semana’, o seu primeiro jornal? ‘A Folha da Semana’ nasceu de uma parceria entre eu e o Bilo da autoescola. Éramos muito amigos. Eu trabalhava em sua autoescola e, num belo dia, resolvemos montar um jornal. Foi tudo muito rápido, entrei na faculdade de Comunicação Social na PUC Campinas e logo no primeiro ano já colocamos o jornal para funcionar. O Bilo naquele tempo fazia administração no ISCA. Ficamos juntos mais ou menos um ano com esta parceria. Rodávamos o jornal na Tribuna de Limeira. Mas, na época tudo era muito difícil, o rendimento era pouco e tomamos a decisão de eu ficar com o jornal e o Bilo prosseguiu com a sua autoescola. Hoje, muitos anos depois, continuamos amigos e vizinhos na Rua São Sebastião. Mais tarde comprei uma máquina de impressão de um jornal de Osasco. Por um bom tempo fizemos o jornal no ‘chumbão’ aqui na Rua 10 de Abril, onde meus pais, Fausto e Cida, derretiam chumbo para a máquina linotipo compor as colunas para a impressão dos jornais. O Mussum bem lembra o trabalho que a “Frida” dava. Frida era o apelido que demos a nossa impressora. Foi uma época complicada, as máquinas eram antigas e quando quebravam tínhamos que recorrer a mecânicos, as vezes de Limeira e outras vezes até mesmo de São Paulo. E é com prazer que digo que não só fabricávamos o jornal como, de madrugada a pé, de bicicleta ou com o fusca da autoescola, entregávamos muitos jornais na cidade de Artur Nogueira.
E a Rádio Cabocla? A rádio foi um sonho. Sempre fui apaixonada por músicas de todos os estilos. Sou uma mulher que gosta de desafios e a Rádio Cabocla deu muito trabalho [risos]. Naquela época, o Cláudio Alves de Menezes era o prefeito, tínhamos um ótimo relacionamento, foi daí que o convidei para montarmos uma rádio. Lembro-me até hoje de suas palavras: “isto é uma coisa mais para você, Fátima, que já faz jornal” – disse ele. Mas não me negou apoio. Por um tempo até que caminhamos bem. Mas que pena que nos desentendemos, foi uma “Guerra Fria”. Passamos a ter até torcida Cláudio X Fátima e fomos até adversários na Política. Mas que bom que o tempo é sempre o melhor remédio para todos os males, pois hoje podemos sentar na mesma mesa e darmos muitas risadas e comentarmos coisas que há anos atrás não conseguíamos. Isso é, crescemos e nos entendemos. E o mais importante de tudo isso é que a rádio existe e que proporciona alegria e entretenimento para muitas pessoas, pois para muito o rádio em muitos momento é a melhor companhia.
Há quantos anos você está à frente do programa ‘Bom Dia Cabocla’? Para falar a verdade não pensava em ser radialista, pois ser jornalista já me fazia feliz, mas devido a ausência de profissionais na cidade, lembro que meu amigo Massaro me disse: “Por que você mesma não faz um programa? Você é capaz” – ele incentivou-me. E assim nasceu o Bom Dia Cabocla, que hoje faz quase 23 anos que está no ar. Fazer um programa todos os dias no ar é reencontrar com os amigos, somar energias positivas, cantando aquela canção do Zezé de Camargo e Luciano que diz que “vai dar tudo certo”, assim acreditando que um dia pode ser sempre melhor que o outro é a minha contribuição para um bom dia à todos os nossos ouvintes. Isso é muito gratificante e apaixonante.
Quem foi seu maior incentivador? Posso dizer que sempre busquei a ajuda de Deus para a realização dos meus projetos. Ele que seca minhas lágrimas e me incentiva para continuar a minha missão. E Nossa Senhora Aparecida, que sempre foi e sempre será a minha protetora.
Em todos esses anos trabalhando como jornalista, qual das entrevistas que você fez foi a mais marcante? Alex, foram muitas entrevistas marcantes, mas posso lhe dizer que entrevistar três pessoas marcaram a minha vida. Tive a emoção de conversar com um camponês que falava com Nossa Senhora, em Congonhal, próximo de Pouso Alegre. Com um filósofo que também tinha um encontro com a Virgem Maria todas as tardes em sua casa, em Jacareí. E por último entrevistar um amigo de Chico Xavier, que falou da vida deste grande espiritualista. Na mesma oportunidade tive a honra de conhecer o próprio Chico Xavier. Lembro-me de ter ficado quatro horas na fila para me aproximar dele, que devido seu estado de saúde somente cumprimentava as pessoas e as abençoavas. Tive a sorte de ganhar um beijo de Chico Xavier na testa e estas palavras sem que eu perguntasse nada: “peça para Jesus, ele vai te ajudar” – chorei muito, muito, até não consegui dormir direito naquela noite em Uberaba. Foi simplesmente maravilhoso!
Hoje, Artur Nogueira gera todos os tipos de notícias. De esportes a cultura, passando por política e segurança. Naquela época, quais eram as notícias que eram publicadas no jornal? As notícias eram engraçadas, principalmente as ocorrências policiais da época [risos]. Era roubo de bicicleta, roupas no varal, botijão de gás. Meus professores e também meus amigos da faculdade riam muito comigo. Tínhamos uma coluna que se chamava “Isto não é fofoca”. Lembro-me que certa vez chegou um profissional na cidade, não vou falar a especialidade, mas que na coluna foi publicado mais ou menos assim: “O novo… vem conquistando mulheres e mais mulheres”. Não sabíamos, mas ele simplesmente era noivo em sua cidade de origem, a noiva ‘baixou’ na redação. Deu B.O. viu! Brincadeira [risos]! Mas falando sério, antigamente para se fazer um jornal era preciso um Aurélio no interior da redação, hoje já e preciso um advogado. Danos morais vem se tornando meio de vida.
Como jornalista, você registrou muitos fatos e acontecimentos em Artur Nogueira. Teve algum episódio que marcou? Em décadas e mais décadas acompanhando a vida da cidade, um momento bastante triste foi um acidente aéreo, de ultraleve que tirou a vida do Élcio Sia acompanhado do seu cunhado, Boy. Foi mesmo uma grande tragédia ocorrida na Rua Duque de Caxias, para todos nós nogueirenses.
No ano de 2001, você foi assumiu como vice-prefeita. Por que decidiu entrar para a Política? Tenho a impressão que caí de paraquedas na Política, pois isso não estava em meus planos nesta vida. Foi mais ou menos assim: um dia eu estava no ar fazendo o meu programa e apareceu meu amigo Luiz de Faveri – a mãe dele é prima legítima de minha mãe. Na ocasião, o Luiz me convidou para ser sua vice. A princípio fiquei em dúvida. Depois falei com minha mãe Cida. Lembro-me perfeitamente das palavras dela, dizendo: “Não entra em Política!”. Eu pensei, pensei, chorei, chorei e conversei com meu marido, Neto, e ele me disse: “É você quem sabe”. Eu não sabia o que fazer e quando vi já estava dentro de uma campanha política. Posso dizer que me diverti muito fazendo visitas e sentir as pessoas de perto foi muito bom. Só tenho boas lembranças de nossa campanha, que era denominada “Gente como a Gente”. Dentro da Política fiz o que pude e até me desgastei, pois me preocupava muito com as pessoas carentes. Trabalhei o social. Foram quatro anos que me dediquei a vida pública com muito amor e carinho.
Tem planos para retornar para a Política? Com todas as letras posso dizer: Não! Embora a Política seja um ato de servir ao próximo, pretendo continuar sempre fazendo tudo o que posso pelo meu semelhante. A vez agora é do Celso Capato, que em menos de cem dias já tem demonstrado sua garra e vontade de fazer de Artur Nogueira uma grande cidade e grande em todos os sentidos. Aqui vai meus parabéns ao novo prefeito e a nossa cidade pelos seus 64 anos de emancipação político-administrativa. Também dou os parabéns a todos os prefeitos que já passaram por aqui e também para os vereadores que deram sua participação para o desenvolvimento de Artur nogueira.
Você já foi vice-prefeita e ainda é uma jornalista. Qual profissão acredita ter contribuído mais para Artur Nogueira? Você está querendo me deixar de “saia justa”, mas eu sei andar de saia e bem justa [risos]. Quando ocupei o cargo de vice-prefeita dei o melhor de mim. Como jornalista há quase 30 anos também sempre preocupei em fazer o melhor. Nas duas oportunidades que tive sempre dei o meu melhor. Já cheguei a dar até mesmo mais do que tinha. Mas posso afirmar que estar dentro de veículos de comunicação e poder sempre contribuir com campanhas filantrópicas e também no dia a dia com as pessoas é sempre muito gratificante. Gosto de interagir constantemente com o povo e o ingrediente mágico é termos sempre muito amor no coração. Os cargos são todos transitórios, o meu político já se foi e o meu jornalístico um dia também terminará. Cabe a nós, sempre fazermos a nossa parte muito bem feita, pois acredito ser isso que o papai do céu quer de nós. A nossa vida é uma oportunidade de desenvolver e desprendermos do nosso egoísmo, de plantarmos boas sementes, pois a colheita é obrigatória.
Se pudesse retornar ao passado e mudar algo, o que mudaria? Olha, eu traria de volta algumas pessoas que estão no Mundo Maior para junto de mim, mas eles se encontram em outros estágios e com certeza em um grau superior. Tem gente que diz que não se arrepende de nada que fez nesta vida, penso ao contrário, pois com a maturidade podemos enxergar o quanto fomos infantis em determinados momentos que depois se tornaram caros demais. Vivemos em constante evoluções e do passado temos que guardar as lembranças, porque tudo o que vivemos, isso é, momentos alegres ou difíceis, foram importantes para que hoje podermos ser o que somos.
Em novembro de 2010, você ficou viúva do Dr. Neto, que morreu após sofrer um infarto durante uma viagem. Como foi que lidou com essa perda? Esta é para mim uma das perguntas mais difíceis de responder para você, Alex. Estávamos retornando de nosso sítio em Socorro – SP, quando isso ocorreu. Estava sozinha com ele dentro da camionete. Foi tudo muito rápido. Ele dirigia e eu estava do seu lado. Ele tentou me abraçar e eu tive a luz divina de puxar o freio de mão. Paramos o carro e ele morreu ali mesmo, partiu sorrindo para longe de mim. Perdi meu companheiro. Posso lhe dizer que as pessoas vivem buscando coisas e mais coisas neste mundo. As coisas mais importantes que temos em nossa vida são as pessoas que nós amamos e convivemos com elas. Todos estaremos aqui por um tempo. Neste ano pretendo lançar um novo livro. Ele se chamará ‘Meus próximos cem anos’. Depois de publicado, vocês entenderão melhor a forma que eu penso de muitas e muitas coisas desta vida. É só aguardar. Luz e paz para todos.
Caricatura: Tomás de Aquino
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