ENTREVISTA: Criadora do Bazar On, Maria Júlia de Sá, fala sobre moda e brechó
Ela criou um grupo no Facebook para que as mulheres nogueirenses pudessem vender ou trocar roupas seminovas. Após um ano, o grupo já possui mais de 10 mil membros. O sucesso foi tão grande que ela decidiu abrir um brechó. O negócio prosperou e hoje ela possui mais de 2.500 peças em uma loja na principal avenida de Artur Nogueira
“Um brechó trabalha em cima do contexto reciclável, que nada mais é que a reutilização de uma peça que outra pessoa não usa mais” (Maria Júlia de Sá)
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Alex Bússulo
Quando a gente fala em brechó algumas pessoas logo pensam em um lugar onde se vende roupas velhas e empoeiradas, que os antigos donos já usaram muito e não querem mais. Um conceito que vem deixando de existir em Artur Nogueira graças ao empreendedorismo de uma jovem nogueirense.
Aos 18 anos de idade, Maria Júlia de Sá comemora o primeiro ano do Brechó Maria Bonita e mais de 10.400 membros no Bazar On, que vende e troca roupas e acessórios em um grupo no Facebook.
Majú, como é chamada carinhosamente por amigos e conhecidos, inovou o que muitos achavam que não daria certo, ainda mais em uma cidade pequena como Artur Nogueira. Com a ajuda da mãe, e sócia, Rosângela de Sá, ela faz sucesso vendendo roupas, calçados e acessórios seminovos.
Atualmente, o brechó está localizado na Avenida Dr. Fernando Arens, próximo ao Correio, e conta com mais de 2.500 peças femininas. Neste sábado, Maria Júlia nos concede uma entrevista e conta como teve a ideia de abrir um brechó e os planos que pretende realizar. Confira.
Como surgiu a ideia de criar o Bazar On? O Bazar On é um grupo do Facebook de venda e troca de artigos e roupas usadas. A ideia do grupo começou com o propósito de vender alguns jeans usados que eu customizava por hobbie. Desde criança eu gostava de inventar e fazer roupas para as minha bonecas, sempre fui muito ligada à moda. Minha avó é costureira, meu tio tem uma rede de lojas e minha tia é dona de uma confecção, isso tá no sangue! [risos]. Assim, eu criei o grupo, adicionei cerca de 100 conhecidos e comecei a vender e a trocar peças que não me serviam mais. Com isso, um foi adicionando o outro e tomou essa proporção, favorecendo muitas pessoas até hoje.
Atualmente, o grupo possui mais de 10.400 membros. Você esperava essa quantidade de participantes quando começou este negócio? Não. Nunca pensei que tanta gente ia apoiar essa ideia, mesmo sabendo da capacidade que a internet possui. No começo eu achei que não iria durar três meses, porque aqui em Artur Nogueira essa prática de venda e troca de produtos usados não era comum, então, como eu não tinha muita experiência com isso, eu não depositei muitas esperanças. Mas, aos poucos fui percebendo que a minha necessidade era também a necessidade de muitos.
E a loja física, como nasceu? Do sucesso do Bazar On e da necessidade das pessoas comprarem produtos bons por um preço acessível. No começo, minha casa vivia cheia de gente. As meninas vinham para a gente trocar, customizar e negociar algumas roupas. Que mulher não gosta disso? A partir daí, eu e minha mãe começamos a visitar alguns brechós em outras cidades e nos apaixonamos! Tivemos muito incentivo, e por ser uma novidade, a inauguração foi um sucesso!
O brechó foi inaugurado em abril do ano passado na Rua 24 de Outubro. Mas há 4 meses, você montou um novo ponto, na principal avenida de Artur Nogueira. Qual foi o motivo desta mudança? O motivo foi atender melhor nossos clientes em um ambiente maior, mais agradável e em um local de melhor acesso para divulgar o nosso trabalho, além de repassar a ideia de que comprar em brechó pode ser um bom negócio.
Na sua opinião, por que a ideia do bazar deu tão certo? Porque foi uma iniciativa diferente na cidade. Algo que despertou a curiosidade e o interesse de muitas pessoas devido ao fato de poder vender ou trocar aquilo que você não usa mais.
As duas coisas, tanto o grupo no Facebook quanto o brechó, se complementam ou você as mantém separadas? O Bazar On me ajudou muito no começo, pois foi um grande salto para a loja física, mas agora prefiro manter as duas coisas separadas porque o Bazar On é um grupo de venda coletiva online, e o brechó é um comércio de portas abertas. Ambos tem a mesma finalidade, mas não a mesma forma de administrar.
Existe moderação no Bazar On ou qualquer um pode publicar o que quiser? Hoje temos cerca de 10.400 membros no grupo e as coisas saíram um pouco de controle porque muitas pessoas não sabem ter respeito. Existem regras, como em todo lugar, mas infelizmente muita gente se aproveita da situação para saírem ganhando de alguma forma. Não é sempre que eu posso ficar olhando e excluindo os “infratores”, mas procuro ser justa nas regras e nas minhas atitudes. Já teve até gente querendo vender gado e galinha em nosso grupo. Isso não pode! As roupas que estão à venda no Brechó, na loja física, eu não posto no Grupo, porque são coisas e propostas diferentes. São regras e regras são feitas para a melhor organização e praticidade de todos. O grupo existe para venda ou troca de peças ou produtos seminovos. Respeitando essas regras não terá nenhum problema.
Embora o brechó venda roupas usadas, a maneira como elas são expostas no local lembra uma loja de grife. Qual é a estratégia? Quando alguém entra em um lugar bem arrumado, cheiroso e decorado, automaticamente a autoestima dessa pessoa melhora também. Nosso objetivo é fazer com que o cliente se sinta em casa, em um ambiente agradável, comprando um produto bom por um preço acessível. Muitas pessoas quando entram no brechó acham que é loja de produtos novos e só se dão conta que estão comprando uma peça seminova quando passam no caixa. Esse acaba sendo o nosso diferencial.
Qual é a peça mais vendida? Jeans são os campeões de venda, porque é uma peça necessária no dia a dia e nós temos calças de várias marcas por um custo baixo. Muitas pessoas vão à procura dos artigos casuais e preferem comprar essas peças usadas para trabalhar.
Ainda existe preconceito por parte de algumas mulheres em comprar roupa de brechó? Sim, não deveria, mas acaba sendo normal. Tem gente que tem quase que alergia ao ouvir essa palavra. Que, quando pensa em um, fica imaginando aquelas roupas empilhadas cheias de poeira. Brechó é um lugar onde se compra, vende ou troca roupas usadas, assim como também sapatos e acessórios.
E por que tanto preconceito? Bem, quando as pessoas pensam nas roupas de um brechó, pensam em coisas velhas, acabadas, que ninguém quis mais, por isso vendeu. Mas não é bem assim. Geralmente, as pessoas que vendem roupas para o brechó, querem se desfazer porque ela não a servem mais, ou que nunca usou, ou até porque já enjoou da peça. Nós não aceitamos peças com rasgos, furos ou em péssimas condições. Tem muitas vantagens de se comprar em brechós. Uma delas é que há uma grande variedade de coisas que você pode encontrar. Desde roupas antigas e vintages, até roupas descoladas e modernas. E o melhor, essa peça vai ser única. Diferente de quando você compra em lojas comuns, que tem várias peças do mesmo modelo, a probabilidade de você esbarrar em alguém com a roupa igual a sua é bem menor. Exclusividade é tudo, né?!
O slogan do brechó é ‘porque a moda é reciclável’. Como podemos definir o que é e o que não é moda? Não existe uma definição certa para a moda, existem tendências que fazem com que esse mercado aconteça, oferecendo uma proposta de produtos que sempre voltam com o tempo. O brechó trabalha em cima do contexto reciclável, que nada mais é que a reutilização de uma peça que outra pessoa não usa mais. Na era do ‘ecologicamente correto’, se vestir com roupa de brechós deixou de ser apenas uma representação de estilo distinto, mas também de uma importância com a sustentabilidade. Na década passada, era impensável acreditar que usar roupas seminovas poderiam ser um auxílio ao atual consumo desenfreado. O bacana é estar sempre reciclando, e não importa o quê. O lixo, os objetos pessoais ou as roupas. Nós, brasileiros, ainda estamos nos acostumando com as “eco-ações”: a reciclagem do lixo, o uso da eco-bag e o preconceito velho e antigo de que usar roupa de brechó é cafona.
Toda roupa pode ser reaproveitada? Sim, só depende da criatividade de cada um! Uma roupa muito velha, não dá para ser vendida, mas ela pode ser usada como retalho para fazer infinitas coisas, como patchwork, artesanatos em geral, eco bags, capa de caderno, pulseiras, entre outras coisas.
Você não pensa em montar algo destinado aos homens? Algo do tipo ‘Bazar João Bonito’? [risos] Sim, com certeza! Nós queremos atender todos os públicos, esse é o próximo passo. Homens, aguardem! [risos].
Quais são seus planos? Meus planos para o brechó é trabalhar com outros tipos de itens usados, como roupas infantis, masculinas, livros e artigos. Sempre buscar mais conhecimento na área e continuar incentivando cada vez mais pessoas à praticar o consumo consciente, afinal, nós não precisamos de muito pra ser feliz!
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