“Eu quero perder o direito de voltar a ser político” pede Capelini
Mesmo com pedido, Câmara Municipal aprova contas públicas de 2009
Alex Bússulo
O ex-prefeito de Artur Nogueira, Marcelo Capelini, compareceu na Câmara Municipal na noite da última segunda-feira (11), para sustentar a defesa junto ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo em relação às contas públicas de 2009.
A comissão que analisou o processo foi composta pelos vereadores Beto Baiano (PRP), Luiz Fernando (PT) e Zé Pedro Paes (PSD). Antes do pronunciamento do ex-prefeito, Zé Pedro fez a leitura da decisão. “Em analise ao processo referente às contas de 2009 da Prefeitura Municipal de Artur Nogueira, a comissão decide por unanimidade a favor da aprovação das contas de 2009”, leu o vereador.
Logo em seguida, Capelini foi convidado a utilizar a tribuna. Por exatos 20 minutos, conforme previsto no estatuto, o ex-prefeito fez a defesa. “Minha preocupação maior não é com o Tribunal de Contas, nem com a Câmara, nem com o julgamento da sociedade, minha preocupação principal é com Deus, com quem eu estou tranquilo. Em oito anos eu fiz o que pude. Artur Nogueira tem muitos problemas para serem resolvidos, aliás, se não tivesse problema não precisaria de prefeito”, disse Capelini.
O ex-prefeito também disse sobre a dívida milionária que o Tribunal de Contas apontou no final do ano passado. “Vou esperar passar alguns dias de governo e depois chamar para o debate. Não dá para discutir uma conta diante de um discurso de que eu deixei R$ 100 milhões em dívidas, porque parece que o julgamento das contas de 2009 está contaminado por informações deste gênero. Aberração. Os asfaltos que estão terminando de fazer foi o meu governo deixou para fazer. Considerar isso uma dívida é absurdo porque vai ser recebida. Aliás, o governo vai receber agora e só vai pagar no próximo governo. São mais de R$ 10 milhões que vão entrar neste governo para serem gastados neste governo e só vai começar a ser pago no próximo. Isso é dívida? Se tem uma dívida essa dívida é da sociedade. Não fui eu que deixei. Se existe uma dívida que o Marcelo deixou foi porque começou a correr um boato no final de 2012 de que a Prefeitura estava quebrada e os funcionários não teriam condições de receber salário. Que só iriam receber salário no final de janeiro, quando começasse a entrar dinheiro. Para não prejudicar funcionário por causa disso, transitei os valores para poder garantir o salário dos servidores públicos. [Capelini se direciona aos vereadores] Abre uma CPI para verificar se o que estão falando é verdade. Deixei mais de R$ 1,5 milhão em recursos livres, deixei mais de R$ 1,2 milhão em estoque de produtos. Deixamos contas para pagar, mas deixamos produtos em caixa, ao contrário de algumas prefeituras da região. Quando eu recebi a Prefeitura não tinha R$ 20 mil no estoque. Eu vou discutir isso no momento certo. Vou em praça pública. Vamos esperar os cem dias. É bom o governo ir se preparando para ir ao debate em praça pública porque eu vou chamar o povo em praça pública. Eu vou com a minha caixinha de som, microfone na mão, para me defender dos ataques inverídicos e injustos que eu estou sofrendo neste momento”, disse o ex-prefeito.
Antes de concluir o pronunciamento, Capelini fez um pedido aos vereadores. “Eu queria que os senhores levassem em consideração um pedido. Vou fazer um pedido para você Amarildo, Ermes, Zezé, Mineirinho, Silvinho, Deí e Lari. Os demais eu não posso fazer esse pedido porque nós não tivemos uma convivência tão próxima. Vou pedir para rejeitar as minhas contas! Porque eu quero perder o direito de voltar a ser político. Eu não quero mais. Cansei. Oito anos para mim foram o suficiente. Eu me doei o máximo que eu pude. Me senti um soldado do bem. Fiz o bem que eu pude. O que eu não pude eu não fiz. Peço que rejeitem as minhas contas. Façam esse favor para mim”, solicitou o ex-prefeito.
Logo após o pronunciamento, Capelini saiu da Câmara Municipal ao lado da ex-primeira-dama, Keli Capelini. Minutos depois todos que estavam no local ouviram estouros de rojões, vindo de fora do prédio.
O vereador Josmar Luck (PSD) leu um texto se dirigindo a Capelini, que já não estava no local, expondo a opinião perante o relatório apresentado pela comissão. “Não se quer aqui dar margem a nenhuma perseguição política ou cometer nenhum injustiça, mas isto não lhe dá nenhum direito ou atestado de idoneidade moral ou ainda de exímio administrador, pois esta prestação de contas mesmo com o parecer favorável apresenta muitas inconsistências, muitas falhas que se repetem nos anos posteriores, pois as contas de 2010 do ex-prefeito já foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas. Com certeza, as contas de 2011 e, principalmente, de 2012 também serão”, afirmou Josmar.
O vereador ainda disse que a cidade cansou de um discurso de que a Prefeitura estava ‘às mil maravilhas’. “O que aparentava era que estava se fazendo a melhor administração do mundo, principalmente em relação aos ex-prefeitos, o que não condiz com a realidade. Se analisarmos os investimentos dos últimos oito anos na cidade, a única obra maior foi a Escola Monteiro Lobato, uma obra mal planejada, pois até o final de seu governo não se achou um modelo para ela”, disse Josmar.
Em seguida o vereador continuou afirmando o ‘caos’ que a cidade foi entregue. Citou dívidas, investimentos perdidos, pagamentos não efetuados, além de citar oito obras paradas do município. “Mesmo que tente argumentar, com dívidas contraídas, fundo de Previdência, fornecedores, INSS, financiamentos, obras abandonadas, o senhor deixou o mandato com uma dívida maior em comparação de quando assumiu. Para encerrar, diria que a maioria das críticas feitas por vossa senhoria a prefeitos anteriores podem, hoje, sem medo de errar da mesma maneira serem ditas ao senhor, o que lembra um velho ditado que muitas vezes a língua é o chicote das nádegas”, concluiu Josmar Luck.
Em seguida, o vereador Amarildo Boer (PSL), que foi secretário de Educação no Governo Capelini, de 2009 a 2011, defendeu o ex-prefeito. “Também tenho a consciência tranquila. Podem olhar todas as contas da Educação no período em que eu fui secretário. Tudo o que foi adquirido foi comprado legalmente. Muitas coisas foram feitas. Faltaram algumas coisas para serem feitas, mas acredito que agora o nosso prefeito Celso Capato vai fazer e com apoio desta casa. Vou fiscalizar, mas também vou ajudar. No governo do Marcelo foram realizadas a reforma e ampliação das creches, aquisição de brinquedos pedagógicos, materiais pedagógicos para os professores, projetores interativos instalados em todas as salas de aulas, valorização dos profissionais, compra de veículos, inclusive veículos adaptados, profissionais para atender crianças especiais no município, fisioterapeuta e psicopedagogos. Respeito a opinião do Marcelo, mas não vou votar contra o parecer porque eu fiz parte do governo, que fez tanto pela Educação”, disse Amarildo.
A vereadora Zezé da Saúde (PSDB) também defendeu o ex-prefeito. “Eu não entendi muito o que foi lido pelo nobre vereador Josmar, porque o que está em pauta aqui, que foi apontado pelo Tribunal de Contas, é que o mínimo que deveria ter sido aplicado na Educação era 25%, e segundo o primeiro exame do Tribunal foi gasto 24,99%. O Marcelo pediu o reexame, ainda com um agravante acerca de aplicação de verbas públicas em propriedade privada. É isso que está em discussão e não tudo isso que a gente ouviu. Pegou muita coisa que não está em pauta agora. Depois do pedido de reexame o parecer foi favorável, apontando que foi investido na Educação 31,76%. O Tribunal reconheceu o erro e corrigiu. Em relação a propriedade particular não houve comprovação de que a municipalidade teve prejuízo. Não tenho como ir contra o Tribunal. O Marcelo fez muita coisa. Ninguém é perfeito. Perfeito foi só Jesus e mesmo assim mataram Ele”, disse Zezé.
Em seguida, o vereador Lari Baiano (PSC) afirmou que também votaria a favor. “Se o Tribunal de Contas aprovou porque nós vamos deixar de aprovar? Manifesto meu voto favorável a este projeto. Não seria contra. Respeito a opinião de todos os vereadores”, afirmou Lari.
Com as folhas lidas por Josmar Luck nas mãos, o vereador Ermes Dagrela (PSB) demonstrou ser contra a reprovação das contas. “Esse papel aqui não significa nada. Eu tenho respeito ao trabalho do ex-prefeito. Não vou sacrificar o Marcelo. Eu voto 500 vezes pelo Tribunal de Contas. Ele [Capelini] trouxe o banco Itaú, Fórum, INSS, vamos torcer para que o prefeito Celso Capato traga muito mais. Coisas boas eu vou apoiar sim, coisas más, não conte com o Ermes. Essa é minha decisão, minha opinião. Eu fui eleito para isso e quero honrar o meu voto, honrar o meu pessoal. Meu voto vai ser confiante, sagrado”, disse Ermes, sendo aplaudido pelos munícipes presentes.
Antes de colocar em votação, o presidente da Câmara Silvinho Conservani (PV), falou sobre o ex-prefeito. “O Marcelo está com a síndrome da perseguição. Independente do pedido dele, nós agimos com justiça, sem politicagem, sem perseguição. Se a consciência dele está limpa, ele pode ficar tranquilo. As análises serão realizadas com calma, com critério. Ele criticou muito o prefeito anterior a ele. Vivia falando que ele era o ‘pagador de contas’. Qualquer governo tem os erros e os acertos. Os acertos foram aplaudidos e foram para as urnas. Os erros foram criticados e foram para a urna adversária”, concluiu Silvinho.
Na votação, os vereadores Josmar Luck e Zé da Elétrica (PRP) se levantaram e votaram contra o parecer da comissão, os demais permaneceram sentados, uma votação de 2 a 10, que resultou na aprovação das contas da Prefeitura no ano de 2009.
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