Morador de Artur Nogueira pede ajuda para fazer cirurgia na perna
Depois de acidente que aconteceu há quatro anos, homem passou por três operações para consertar perna quebrada
Por Isadora Stentzler
Luciano Alberto da Silva tem 36 anos. Natural de Garanhuns, no Pernambuco, veio a Artur Nogueira depois que um acidente lhe comprometeu a mobilidade. Era casado, tinha uma filha pequena e trabalhava. Ele afirma que, ao ser atingido por um carro na saída de uma Feira de Garanhuns, a esposa o deixou. Com a perna quebrada e tendo apenas uma aposentadoria para sustentar a filha de seis anos, Silva conta a história por de trás da vinda dele ao Berço da Amizade.
Era ano de 2010 e Silva se despediu de casa a motivos de negócios, partindo em direção à feira. Era, a princípio, um caminho com volta. Não fosse o alerta vindo da mãe: “Meu filho, se eu fosse você não ia não”. Porém a ideia de não ir lhe era improvável. É que visionário, Silva trabalhava com compras e vendas de cavalos, o que garantia uma renda extra ao trabalho de agricultor. E naquele infortunado dia, precisava entregar um potro e uma égua. O pedido da mãe, soado ao ouvido como um alerta infundado, foi desprezado devido à voga da responsabilidade mercantil.
E à Feira, tudo corria bem. As trocas feitas e o dinheiro à mão eram, às 17 horas, pré determinações já seladas. Bastava o rumar para casa. Uma ida que levaria um mês e 15 dias.
Silva seguia de cavalo. Deixou a feira após os negócios e, depois de uma visita breve a alguns parentes, galopava em direção à casa num trote costumeiro. Foi então que numa dita esquina, que lembrar o nome seria luxo, o inesperado aconteceu. Um carro em alta velocidade passou o cruzamento não sinalizado e acertou o meio do cavalo em que Silva estava. Um choque apenas e as luzes de Silva apagaram. “Eu tava na casa de uns parentes meus e, quando deu a hora de ir para casa, eu fui. Aí veio um irresponsável bêbado e bateu. Abriu o cavalo em duas bandas. Fiquei em uma situação bem difícil. Caí no chão, perdi a consciência. Não lembro de nada, nada. Só sei que passei um mês e quinze dias em coma.”
Ao retomar a razão, no leito do hospital, meio atordoado, não entendia como, por qu e o que fazia ali. “E minha esposa? E minha filha?”, perguntava-se. Quem lhe contou foi a mãe. Depois do atropelamento, Silva foi encaminhado com urgência ao Hospital de Garanhuns. Estava desacordado, em coma, com o tornozelo esquerdo fraturado. O quadro de Silva não era otimista. Os próprios médicos chegaram a dizer que Silva ficaria paraplégico, limitando-se a passar o resto da vida em uma cama. Silva conta que o laudo aterrorizou a esposa que ficou fria. Apática. Insensível ao esposo com quem possuía uma relação de década. Então, conta Silva que ela preferiu fugir só, abandonando-o em coma com uma filha de quase dois anos.
A notícia foi o balde de água fria que acordou Silva. Embora que do acidente ficaram lembranças vagas, as marcas que carregariam seriam longínquas. Além da esposa, o tornozelo fraturado ficou irrecuperável. Ele culpa o médico. “O médico de lá me aleijou.”, acusa. “Ele fez três cirurgias. A primeira vez ele colocou platina dos dois lados dos ossos. Na segunda tirou a platina. E na terceira colocou um gaiolão e disse que depois de uns tempos tiraria. Mas passou esse tempo e infeccionou a minha perna. Então, na data marcada, fui tirar o gaiolão. Mas como o negócio deles era ganhar dinheiro, sempre passavam que tinha mais condições na frente. Por isso não consegui tirar. Fiquei muito agoniado. Aí cheguei e pedi pra minha mãe colocar uma água a ferver e disse que tiraria esse treco. Coloquei meu pé dentro da bacia de água quente e com um alicate comecei a tirar. Quase desmaiei de dor, mas tirei tudo. De lá pra cá não procurei mais aquele médico. Me mandaram levar essa situação pra frente [na Justiça] mas não quis.”
Depois desse dia a perna desinchou e o pus que estava no tornozelo também saiu. As dores continuaram mas, segundo ele, eram menos intensas. E embora o mercador estivesse livre da cama, que ficou por pouco mais de um ano, e da cadeira de rodas, ainda havia tristeza. “Entrei em desespero. Fiquei com depressão. Só não fiz nenhuma besteira porque pensei muito na minha filha”. Silva faz uma pausa e diz: “É porque para um cara que era acostumado a trabalhar ficar na situação que eu estou, não é fácil.”
A tristeza que se apossou de Silva também tinha outros motivos. Devido ao pedido negado, a mãe do mercador atribuiu ao filho a culpa do acidente. E mesmo com o passar dos anos, olhar a perna, ver-se sem a companheira e lembrar dos flashes do acidente, ainda o desanimavam.
Dominado por este sentimento, Silva decidiu deixar a casa há seis meses e tentar uma outra vida, longe dos fantasmas do passado.
A vinda a Artur Nogueira se deu há pouco mais de três meses e foi precedida pela saída de Limeira, onde vive uma irmã de Silva. “Vim em busca de uma melhora pra mim. Pra cuidar da minha perna e então conseguir operar.” Ao lado da filha, a nova vida veio com poucas malas e um salário mínimo, diminuído a R$ 420 mensais devido a quitação de um empréstimo que precisou fazer logo após o acidente. “Dá para pagar as contas, mas não dá para fazer a cirurgia”, conta Silva, que estima entre R$ 6 e R$ 7 mil a operação que precisa fazer.
Hoje ele vive no bairro Sítio Novo. Apoia-se em muletas. Trabalha fazendo bicos de pintura. Leva e traz a filha da escola. E convive com a dor de uma perna maltratada e com uma falta não preenchida. “Sinto que minha filha precisa de uma mãe”. Mas também anima-se. “Para quem já foi desenganado pelos médicos, estar hoje como estou é muito bom. E, sabe, pra ser mais feliz só me falta arrumar a perna e ter uma companheira de novo”, revela Silva
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