OPINIÃO: Não podemos deixar que acabem com as APAEs
Assistente social fala sobre projeto que pode acabar com a associação
Por Andrea Letícia Fernandes
Ao questionar se sou favorável à inclusão radical dos alunos com deficiência intelectual, múltipla e transtorno global do desenvolvimento na escola regular, afirmo: sou totalmente contra essa inclusão que exclui e limita o direito da pessoa com deficiência a frequentar uma escola especial, como a APAE. E, questiono como será essa inclusão? Os profissionais estão preparados para recebê-los? Os alunos e suas famílias foram questionados sobre essa decisão?
Como assistente social da APAE de Artur Nogueira, vivencio cotidianamente a realidade, as dificuldades enfrentadas pelo aluno com deficiência e sua família na garantia de direitos. Deparo-me com a dificuldade, a disponibilidade, a dedicação, o amor incondicional das famílias e da APAE em garantir a pessoa com deficiência, uma escola especializada onde, as diferenças são trabalhadas com igualdade e respeito a sua individualidade e suas habilidades, oportunizando a acessibilidade em todos os aspectos, a socialização sem discriminação.
Todas as ações são destinadas e pensadas no seu bem estar, no seu desenvolvimento global, mais que alfabetizá-los, a APAE juntamente com a família busca prepará-los para a vida, onde, o aluno saiba atravessar uma rua, realizar uma compra, cuidar da sua higiene pessoal e de seu ambiente, ingressar aqueles que estiverem preparados no mercado de trabalho (atualmente treze alunos estão trabalhando em empresas do nosso município e no município de Jaguariúna). A cada habilidade trabalhada e conquistada pelo aluno é motivo de muita alegria e comemoração para a equipe da APAE e sua família.
Pensemos nos alunos com maior comprometimento, nos autistas que necessitam de cuidados e atendimentos individualizados pelo professor, pela equipe multidisciplinar, etc., como será a inclusão desses alunos na rede regular, lhes serão assegurados atendimentos de acordo com suas necessidades e especificidades de sua deficiência? Nos últimos anos temos recebidos os alunos acima de catorze anos de idade que frequentavam escolas regulares, porém, sofriam discriminação pelos colegas em sala de aula, muitos deles evadiram-se da escola ou se tornaram agressivos e/ou apáticos para se defenderem daquela situação, que ao invés de proporcionar um ambiente de socialização e educação, os excluía. Seria importante perguntar para esses alunos qual foi a sua experiência ao frequentar uma escola regular, e se desejam retornar para essas mesmas escolas. Verificamos a dificuldade que o professor da escola regular tem em desdobrar-se para atender as necessidades de um aluno com deficiência intelectual/múltipla e ministrar o conteúdo programático ao restante sala de aula com mais de vinte cinco alunos.
Outro fator que me preocupa e me questiono, são os alunos acima de trinta anos, qual projeto educacional/social os atenderá? Atualmente a APAE de Artur Nogueira atende 27 (vinte e sete) alunos de 30 (trinta) a 65 (sessenta e cinco) anos de idade, onde, os mesmos tem uma sala de oficina com professora e equipe especializada para atender suas necessidades e anseios decorrentes da idade e de sua deficiência. Será que novamente ficaram relegados em seus lares sem nenhum atendimento. Acredito que a inclusão é importante, mas é preciso realizá-la sem ferir as reais necessidades da pessoa com deficiência intelectual, múltipla ou transtorno global do desenvolvimento.
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Andrea Letícia Fernandes é Assistente Social da APAE, especialista em Saúde e Violência pela Faculdade de Ciências Médicas/UNICAMP, Presidente do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), Conselheira do CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social)
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