OPINIÃO: Os protestos no Brasil e no mundo
Historiador Elder Hosokawa relembra grandes manifestações
Por Elder Hosokawa
Em junho, quando a onda de protestos contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo e outras cidades do Brasil, ampliada pelas redes sociais, passou a ser noticiada no Brasil, logo me lembrei das edições especiais de revistas e jornais que circulam no final do mês de dezembro, quando diversos analistas são convidados para escreverem seus prognósticos no campo da política e da economia.
O que começou como ação do Movimento Passe Livre (MPL), um movimento social brasileiro criado em 2005 que defende tarifa zero para transporte coletivo e a transformação do sistema de transporte privado para um sistema público, virou protesto contra o aumento de tarifas de transportes coletivos em várias cidades brasileiras em 2012. Agora se junta com a insatisfação gerada pelos primeiros reflexos do retorno da inflação já percebida no bolso dos brasileiros. Em nossa região a queixa talvez seja o gargalo dos pedágios.
Ninguém foi capaz de prever, a curto prazo, os eventos de 1989; protestos na China, na Praça Tiananmen, ou a queda do muro de Berlim, na Alemanha. Havia sim aqueles que previam a médio e longo prazo o fim de regimes políticos autoritários, por esgotamento dos seus líderes e declínio da base de sustentação nos diversos segmentos de apoio, mas não uma ação popular efetiva que resultasse em mudanças tão rápidas.
Em 2010 com a Primavera Árabe foi semelhante. Não houve previsão, a curto prazo, do que aconteceria no Egito, na Líbia e o massacre que se arrastaria na Síria. A revista liberal inglesa The Economist, fundada em 1843, que edita já há alguns anos uma edição sobre as tendências do próximo ano, deixou transparecer em suas páginas a crise rondando a Europa e a previsão de agitação para 2011 que acabou se confirmando com os protestos dos jovens nas ruas de Londres.
Na história recente do Brasil, os anos de 1964, 1984 e 1992 ficaram marcados por grandes manifestações de rua: a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, Diretas Já, Fora Collor e os cara pintadas. O ano de 2013 promete ficar na história pela mobilização social e nos próximos dias teremos um título para esta agitação que toma as ruas das grandes cidades do Brasil.
Os protestos das últimas semanas no Brasil, inicialmente ligada ao aumento das passagens assemelham-se com o que ocorreu na Turquia a partir de 28 de maio, no movimento jovem contra a remodelação da Praça Taksim e do Parque Gezi, imposta pelo primeiro ministro turco Erdogan em Istambul, um espaço ligado historicamente aos armênios. O que era para ser um protesto local de ambientalistas foi o estopim para demonstração generalizada de revolta contra o governo.
Autoridades brasileira do poder executivo e do legislativo em todas as suas esferas, de olho na campanha eleitoral para 5 de outubro de 2014, têm se declarado a favor das manifestações democráticas, como se o protesto não tivesse relação com a gestão do governo nos últimos anos.
A crise no transporte público, a morosidade na punição dos mensaleiros, o superfaturamento de obras da Copa, a educação pública sem perspectiva, o caos na saúde prometem inflamar a juventude e a cobrança das ruas tem potencial para ditar a agenda política e econômica do Brasil. Certezas? Nenhuma.
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Elder Hosokawa é historiador e professor Universitário do Unasp
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