17/06/2025

Proteção e cuidado de animais durante período de frio é desafio para cidades

Segundo especialista Carlos Caressato, planejamento é fundamental na questão, que fica em segundo plano na lista de demandas do poder público

Imagem: Maria Gabriela Bertolini/Vecteezy

Da Redação

Apesar da onda de frio que já vem causando arrepios desde as últimas semanas, oficialmente o inverno só terá início nesta sexta-feira (20), às 23h42, pelo horário de Brasília. Desejado por uns e temido por outros, o frio impacta diversas partes do cotidiano, como a economia, os hábitos alimentares e a saúde.

Para este ano, por exemplo, a previsão é que a estação seja amena e com temperaturas mais altas, o que deve impactar, segundo projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas do setor de vestuário, calçados e acessórios, por exemplo.

Na saúde, profissionais da área da nutrição apontam que há uma tendência geral de que, no inverno, as pessoas consumam mais calorias. De acordo com o Conselho Regional de Nutrição de São Paulo, períodos de frio fazem com que o corpo ative um mecanismo de controle de temperatura que aumenta a sensação de fome. Mais um fator para a equação.

No entanto, existem grupos que não recebem tanta atenção quando o assunto é frio; um deles é o dos animais. Segundo o cientista político, mestre em Educação e ex-diretor do Departamento de Bem-Estar Animal de Artur Nogueira, Carlos Caressato, os animais, apesar de não partilharem do nível humano de consciência, ainda são capazes de compreender, em algum grau, quando estão em sofrimento decorrente de temperaturas extremas, sejam elas altas ou baixas.

Para ele, as condições de saúde do pet precisam estar preparadas para os períodos. “É muito importante [o animal] estar com a vacinação em dia; os gatos, com a vacina tríplice, e os cães, com a V8, em especial a da gripe canina. A recomendação é sempre buscar ajuda com um veterinário. Para animais em situação de rua, é importante mantê-los bem alimentados”, detalha. Além disso, é crucial que os animais mantenham a hidratação em dia e tenham os locais onde dormem e vivem aquecidos. Uma opção é equipar o local com papelões e jornais. Se possível, uma casinha.

Segundo Caressato, para além de condições como a hipotermia, outros fatores envolvendo animais no período de frio são subestimados, como as chuvas. Ele conta que, na semana anterior à entrevista ao Portal On, havia resgatado uma cadela em uma vicinal de Limeira (SP). “Ela pegou todas aquelas chuvas que nós tivemos na semana passada. Chuva e frio, né?”, relata. Para ele, intempéries climáticas também precisam entrar na equação.

Do ponto de vista da administração pública, Caressato afirma que há protocolos veterinários preventivos que podem ser feitos, o que, segundo ele, demanda uma infraestrutura que alguns municípios não estão preparados para sustentar, “por destinar menos verbas para essas áreas ou por falta de planejamento da administração”. Ele utiliza Artur Nogueira como exemplo: cidade que, diz ele, apesar de ter um calendário de vacinação animal contra a raiva, não conta com o mesmo cronograma preventivo para períodos de frio.

Para ele, governantes e gestores públicos podem acabar negligenciando o cuidado com animais em meio às demandas envolvidas na gestão. “Eu me preocupo com a saúde humana, eu me preocupo primeiro com a minha escola, eu me preocupo primeiro com o meu esporte… E a questão, por exemplo, dos animais de rua, em situações de rua, é a última coisa que vai acontecer.”

“É necessário fazer todo um planejamento de gastos. Quando se fala em planejamento preventivo, eu considero um planejamento estratégico, porque a primeira coisa a fazer em qualquer município — e, aí, alguns municípios já estão bastante avançados — é o levantamento do censo para entender quantos animais, aproximadamente, o município possui. Não só alojados em alguma casa, mas também os de rua”, explica. Para Carlos, todo trabalho público tem que ser baseado em números.

Caressato diz que campanhas de conscientização pública também são válidas, mas que é mais um esforço que precisa ser calculado pelo poder público. “Você poderia comunicar através de folhetos distribuídos nas escolas, folhetos distribuídos, por exemplo, no hospital, folhetos distribuídos, por exemplo, na feirinha… Você pode ter um carro de som que poderia passar pelos bairros informando medidas mitigativas que poderiam ajudar… Tudo isso. Mas, para isso, você tem que ter vontade. E, quando eu digo vontade, é a vontade política”, pontua.

Um levantamento do Instituto Pet Brasil, divulgado em dezembro de 2024, revela que, no Brasil, mais de 201 mil animais estão sendo cuidados por ONGs ou grupos independentes de proteção animal. Ainda de acordo com o levantamento, por volta de 4,8 milhões de cães e gatos se encontravam em condições de vulnerabilidade. Aos dados somam-se fatores como a superlotação de abrigos independentes, que ainda lidam com questões relacionadas à escassez financeira e de demais recursos.

Para Caressato, uma ação efetiva do poder público é fundamental na maneira como uma cidade lida com a situação. “Tudo isso vai muito do olhar do administrador público, vai muito da boa vontade, da vontade política que se tem de fazer alguma coisa. Então, frente a tantas dificuldades que se tem para administrar um município, o interesse pelos animais de rua é colocado lá para trás. Porque o olhar é diminuído. É o que eu enxergo”, diz.


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